Bom, vamos lá. Boa noite, sejam bem-vindos. Bom, eu vou fazer essa aula mais curtinha, porque eu acabei de chegar de Navarro, que vem de carro, uma chuva desgraçada, nós temos que andar 30 milhão por hora e nós estamos muito cansados, mas eu acabei de falar nesse encontro da direita promovida pelo Alan dos Santos e de Beatriz Quices, e o que eu vou dizer aqui é uma espécie de continuação do que eu disse lá. E também é que se constitui de algumas observações complementares, aquilo que muitos anos atrás, mais de 20 anos atrás, escrevi sobre George Gurdjieff. Existe uma apostila chamada, quem é Gurdjieff? Muita gente leu. E nessa apostila, eu tentei fazer um exame do trabalho do Gurdjieff, eu tenho que dizer trabalho, não obra, porque obra já é usada apenas para descrita e é evidente que o trabalho do Gurdjieff é muito além de tudo que ele escreveu, uma série de exercícios, de disciplinas, a todo até um estilo pessoal de educação que ele empregou, tudo isso com o trabalho do Gurdjieff, e também se prolongando através de alguns discípulos. Então, nessa apostila, eu tentei um exame do trabalho do Gurdjieff, à luz de algumas distinções que tinham sido colocadas pela escola tradicionalista do Guénon-Choum. Essas distinções são ainda válidas, evidentemente, no seguinte sentido. Eu, mais ou menos na mesma época, estava escrevendo para o Homaná que abriu o verbito sobre a religião, e eles me deram os verbitos anteriores, eu lhe fiquei muito insatisfeito com aquilo, falei que esse pessoal, evidentemente, não tem ideia do que é uma religião, mas eu acho que nós podemos dissingir o que são religiões e o que são o seu dos religiões, por uma série de traços formais bem característicos, independentemente de a gente prejudicar se o conteúdo do que aquela religião está pregando é verdadeiro ou não. Então, uma coisa é assim, verdadeira religião e uma falsa religião, e outra coisa é uma religião verá se uma religião com o conteúdo é falso, isso não é uma coisa de nada bem contra. Então, sem prejudicar a veracidade do conteúdo do outro inácio dos religiões, eu achei e eu acho ainda que é possível você dizer, por exemplo, que o budismo é uma religião, o hinduísmo é uma religião, o judaísmo é uma religião, o islamismo é uma religião, cristianismo é uma religião e há uma série de coisas que se comprou com esse nome, que não são religiões de maneira alguma, eu vou ver ainda se localizo esse longo texto que eu fiz para o Homaná que abriu, que contrasta do Homané brutal com todos os verbetes anteriores e posteriores sobre a religião publicados por este Homanáquio. Eu não sei onde está, mas eu vou tentar localizar. E nesse sentido, então, examinava o trabalho do Gurdjieff, a luz do que o Schoenck ensinava sobre esoterismos autênticos e falsos. Também é uma distinção que se pode fazer independentemente de saber se o conteúdo doutrinal dos vários esoterismos é verdadeiro ou falsa. Também existe algo que é um esoterismo efetivo, real, históricamente real e algo que é uma invenção criada ao Homan, uma bomba em qualquer. Essa distinção não tem nada a ver, nem com a veracidade intrínseca do conteúdo doutrinal, nem muito menos tem a ver com adesão ou repulsa em relação a coisa. Era um critério científico formal. Tudo que eu descrevi ali a respeito dos efeitos, dos exercícios Gurdjieff sobre os seus discípulos é verdadeiro, só que depois disso eu aprendi alguma coisa. Você já passou quase 30 anos que eu fiz esse negócio, né? E depois daquela época eu comecei a ler o Gurdjieff com outros olhos. Eu me perguntei, mas e se esse negócio não fosse sério? Porque tem muitas atitudes e ditos do Gurdjieff que levados ao pé da letra e tomados com seriedade chegavam absurdos, total, total, total e que ao mesmo tempo tinha um efeito brutalmente cômico. Eu falei, ai, quem sabe esse efeito cômico é a chave do negócio. Por exemplo, quando ele disse, o senhor não tem alma nenhuma, mas pode comprar uma em dentro de uma certa quantinha de dinheiro. Bom, tá duas atitudes que você pode acreditar e que tentar comprar a alma pagando e você pode estourar de dar risada, não é isso? Dar risada não só da piada como da reação da vítima. E o Gurdjieff se esmerou em pegar nesses truques, justamente as pessoas que se acreditavam as mais conscientes da Europa, isso é intelectuais, cientistas, professores, governantes, etc. fez todos de idiotas e na véspera de morrer reuniu o seu discípulo e disse eu vos deixo em maus lençóis. O truque que mais acreditou em Gurdjieff foi os Penske. Os Penske escreveu um livro fragmento de um ensinamento desconhecido que podia ser o desconhecimento de um ensinamento fragmentado ou o ensinamento de um fragmento esquecido, é qualquer coisa assim. O livro que é muito levado à série é considerar uma espécie de suma do pensamento e da técnica Gurdjieff. Mas do qual o próprio Gurdjieff disse, os Penske é uma idiota, isso é tudo besteira do começo até o fim. Outro episódio que me chamou a atenção é que é relatado por um dos discípulos do Gurdjieff, eu não lembro se isso é relatado pelo Louis Povel ou por outro discípulo qualquer, mas o Gurdjieff reuniu seus discípulos lá no castelo do Prio Reik, ele havia comprado com o dinheiro deles e disse, bom hoje eu vou expor aqui a estrutura do universo e expunha durante horas todo um sistema cosmológico, cheia de equações e tal, o pessoal ficava muito impressionante, tinha muitos deles ali que eram físicos, os cientistas de grande renome ficavam acompanhando aquilo assim, absolutamente maravilhados. Chegaram no dia seguinte, ele reunia todo mundo de novo e já não é nada daquilo, aquilo está tudo errado e fazer outro sistema, que com as equações e tudo. Foi um terceiro e um quarto assim por dente. Isso quer dizer, este homem concebia do dia para a noite uma coisa que um cientista levava a vida inteira para conceber, só que ele estava fazendo tudo igual à ação. Então com isso ele estava fazendo a sua vida intelectual inteira é uma piada e eu crio uma piada dessa de um dia para a noite. E o fato dos caras acreditarem naquilo, levar aquilo literalmente a sério, mostrava o que? A tremenda fragilidade das estruturas da vida intelectual no ocidente. Então isso quer dizer que quatro séculos de cientificismo, materialismo, progressismo, etc. tinham realmente estupidificado a elite, a elite intelectual. E o Gurdjieff demonstrou isso de maneira absolutamente brilhante, ele mostrou que aquilo era um bandido de outras crédulos. E eu comecei então a reexaminar o Gurdjieff, falei de fato, ele tem o efeito que eu descrevi naquela postilha, ele é real, mas só se o sujeito levar a coisa a sério. Se você levar pelo lado cômico, eu digo, isso é uma paródia cruel de toda a civilização científica moderna. Você começa a ver com outros olhos completamente diferentes, de tudo aquilo que fez mal, os caras podem fazer bem. E pra mim me fez muito bem, eu tirei dali inúmeras ideias e uma das delas foi essa que eu expus hoje, ele tem uma frase que num primeiro instante parece absurdo, que diz, os fins não interessam, só os meios importam. Ora, num mundo onde todo mundo tá acostumado a ver discutir se os fins justificam os meios ou não justificam, e se apegam a esta distinção de ordem moral, o Gurdjieff vinha e mostrava, por trás dessa sua discussão moral, existe uma realidade histórica e a realidade é muito simples. O que produz um efeito não é o propósito alegado, mas é a materialidade, a consistência real da ação empreendida. Depois se aplicou fica fácil, até eu expliquei ali nesse encontro sobre a direita e o conservador do Brasil, que todo esse pessoal que fica combatendo as ideias modernistas, revolucionárias e diversitárias de 68, na base da defesa da defesa da cristandade, defesa da família, defesa dos valores tradicionais, defesa você, tá fazendo um buraco na água, porque eles estão discutindo apenas ideais alegados. Então, vamos dizer assim, você prefere o que? Uma sociedade cristão de impera-moralidade, as pessoas cuidam das suas famílias, o pai tem autoridade de caso, os filhos obedecem, a religião é ensinada nas escolas etc. Ou uma sociedade onde todo mundo é livre pra trazar com quem quiser, com a maconha, fazer o que bem-entenda. Eu vou lhe dizer francamente, as duas ideias tem lá os seus méritos, por um motivo muito simples. Quando, você não pode esquecer que o conjunto de ensinamentos de Jesus Cristo foi difundido inicialmente por pessoas que não tinham nenhuma autoridade na sociedade, ao contrário totalmente marginais. E o próprio Jesus Cristo jamais fez questão de parecer ter uma boa conduta, de parecer ser um tipo socialmente aceitável, ao contrário, andava com protetuta, com bandido, com bêbado, etc. E fazia muito uma figura. Quando o espaço dos 2 mil anos e as ideias cristã se incorporaram na sociedade, então elas passam a exercer uma pressão social sobre os membros. Só que o seguinte, elas começam a funcionar ao contrário. Você começa a obedecer porque você tem medo do falatório, porque você tem medo do vizinho, porque você não quer fazer uma figura etc. Então, todo esse esforço de você criar uma aparência se torna um simuláculo da cristandade. Então, nessa altura, não é de espantar que apareçam ensinamentos paródicos que vão lhe mostrar a ver a cidade do cristianismo pela maneira inversa, pela caricatura, pela deformação paródica da realidade. Eu vejo muito isso, por exemplo, nos livros do Henry Miller. Difícilmente você encontra algum católico protestante que gosta do Henry Miller porque existe uma imoralidade. Eu digo, bom, mas continua lendo. E você vai ver que no fundo tudo isso você tem a mensagem cristã, assim como é a mensagem cristã, é a mensagem de Rabelé, um dos grandes autores católicos da história. Ou seja, quando uma doutrina que se origina no próprio Deus, ela se cristaliza, vamos dizer, numa estrutura social, ela adquire o mesmo valor, vamos dizer, de teatro, que tinha, vamos dizer, as antigas normas greco-romanas que o cristianismo destronou, é a mesma, é a mesma coisa. Quando você observa, por exemplo, quando você lê Nathaniel Hawthorne, a letra Escarlati, muitos outros livros desse tipo, você vê que uma espécie de cristianismo consolidado em instituição social produz toda a sorte de deformações morais em nome da cristã andada. É isso. O cristianismo deixa de ser válido. Então, só que é o seguinte, você tem que decidir se você está obedecendo à mensagem de um Deus que você não vê, ou se você está obedecendo a uma autoridade social que aparece em cima de você, sob a forma do professor, da polícia, do governo, da vizinhança, etc. O que você quer? Você está se forçando para ficar de bem neste mundo, ou para ficar de bem com outro, ainda que fazendo uma figura neste, ainda que a sua figura externa seja escandalosa, tão escandalosa quanto foi do próprio Jesus Cristo. Então, a resposta é evidente. Você tem que renunciar os valores deste mundo, inclusive a essa bela aparência burguesa ou pequena burguesa. E você tem que seguir a Deus independentemente das consequências sociais que isso desencadeia ou não. A gente nota isso perfeitamente de uma maneira muito mais clara aqui nos Estados Unidos, porque o pessoal leva aqui o negócio de Bíblia a sério, que eles ensinam as suas crianças, etc. E fica todo mundo engessadinho, está certo? Bonitinho, mas é muito difícil saber se eles estão seguindo o Cristo ou estão seguindo apenas a mamãe. Eu já vi coisas assim, e sobretudo essas pessoas são muito fáceis de você ofender, de você chocar, qualquer coisinha choca. E ao passo que você vê, quando você lê o Evangelho, a história de Jesus Cristo, ele nunca foi chocado com coisa nenhuma. Ele já olha aqui, está todo mundo pecando, roubando, matando, etc. Mas isso tem a humanidade que nós temos, é com essa, mas vamos ter que lidar, está certo? E eu acredito, vamos dizer, que o verdadeiro Espírito Cristiano imerso, você não se choca com nada, sobretudo você não se faz ser superior ao pecador, você não é superior ao pecador, você é mais sorte, porque o tipo de vez que você está levando, tem algumas vantagens, a primeira vantagem é o seguinte, a palavra de Deus é a estrutura da realidade, esses fagos dez mandamentos, isso é uma coisa que a gente deve agir assim, não, não é que a gente deve, é que as coisas são assim. E quando você sai disso, você entrou no mundo da ilusão, em uma hora que você entra no mundo da ilusão, a sua vida está sendo perdida, está sendo queimada, já está sendo queimada, você vai ardendo em inferno, e você vai dizer, você já está sendo queimada agora, porque você está virando fumaça, a sua vida inteira é um nada, de fato não aconteceu nada, e quando termina você vira um fumaça também. Então seria muito engraçado que Deus tivesse feito o mundo de um jeito, e depois dizer para você fazer outra coisa, para não é possível ter algo errado nessa concepção, ou seja, os mandamentos não são um dever ser, eles são a própria estrutura do ser, ou então eles não são nada, tá certo? Então não se trata por tão de você obedecer a uma moralidade, mas de você se instalar numa vida real, e a vida real só se revela a você gradativamente, na medida em que você aceita esses pressupostos do cristianismo, eles tudo se torna imensamente mais claro a hora que você começa a entender isso aí, não que você vai virar um santo e obedecer todo dia para noite, o ponto não está nisto, se fosse isto não existiria sequer o sacramento da confissão, por exemplo, você vai lá no pado, você vai lá, pade pequei tal coisa assim, sei lá, comer uma mulher do vizinho, tá, você nunca mais vai fazer isso, ele fala, mas se fosse assim, você só confessaria uma vez na vida, porque que igreja manda você confessar como um gato assim, no mínimo uma vez por ano, é o mínimo, o certo é lá ver por semana, e o mais certo é todo o dia, que nem fazia, falecia, falecia, doutor sobra o pinto, confessava como um gato todo dia, o pessoal lá doutor Júlio Flech, foi também confessar como um gato todo dia, então, para que isto, se você pecou só uma vez, então é evidente que a tendência do pecado, ela pesa sobre o ser humano de uma maneira quase invencível, e mesmo a própria igreja esclarece, você não é com a sua força que você vai vencer isso, aí é Deus que vai te dar força, como é que você faz? Confessa, com o mundo, dá, reza o terço, vai, você vai ver as coisas acontecerem aos poucos e quase independentemente da sua vontade, então, se as coisas são exatamente assim, então pense bem, tudo a ideia, vamos dizer, do estado cristão, das leis cristãs, etc, começa a se revelar uma tremenda ilusão, nada disso vai acontecer, o que você pode fazer é um simuláculo cristão do mundo que continuará tão pecaminoso quanto antes, e pior, você vai gerar novas formas de perversão, a primeira delas, a universalização da hipocrisia, você torna quase obrigatório, você tem que fazer aquele negócio, a mulher de César, ela não basta que ela seja honesta, ela tem de parecer, eu digo, bom, tudo o que nós sabemos é que ela parece honesta, se ela é mesmo jamais saberemos, então, portanto, só o que interessa é ser, leio a teoria do medalhão, do machado de Assis, e está lá, a única coisa necessária é a aparência, a verdade é apenas conveniente, então, isto se tornou uma espécie de regra geral no mundo em que vivemos, e por isso mesmo aparecem os ensinamentos paradoxais, que a primeira vista são chocantes, malignos, às vezes aparece até demonia, mas pode funcionar no sentido cristão, se você tiver a humildade de entendê-lo por aquilo que eles são, eles são um ensinamento paródico e não uma doutrina pra ser levada a sério, e vendo o Gúrdio sobre esse aspecto, ao longo do tempo eu fui descobrindo, pera aí, o único que ninguém me entendeu o Gúrdio é assim, fui eu, não ver mais ninguém, eu vejo discípulos do Gúrdio e pessoas que odeiam, não ver ninguém que tenta tirar um proveito cognitivo disso aí, inverte o negócio, e você vê o que dá, porque o Gúrdio tem uma frase que diz, chegaréis à verdade através da mentira, isso é impossível, não é perfeitamente possível desde que você estôre a mentira, agora que você descobre a mentira e ele descobre o que por trás dela, bom, você chegou à verdade através da mentira, mas não acreditando na mentira, fazer exatamente o contrário, você recebe a mentira, é dizer, pô, parece que as coisas não são bem assim, deixa eu ver como é mesmo, e você acaba descobrindo que é coisa de uma outra maneira, só que agora você tem o reforço dialético da mentira, que a mente humana tem isso, ela funciona dialeticamente, ela funciona por oposições, é aquilo que diz o Colher Marias, a fórmula da cada tese filosófico não é a igual a B, é assim, A não é C, porém B, ou A não é B, porém C, portanto existe o elemento, vamos dizer, da contradição do erro, a negação do erro, a negação da negação, isso é fatal na mente humana, quer dizer, a verdade, por isso, impredita de maneira literal, tem pouco poder de impregnação na mente humana, se não tem o contraste, você não vê assim como, vamos dizer, para desenhar o objeto qualquer, o que é que, como é que você o desenha? Você desenha tal como ele aparece na realidade? Não, você sabe como ele aparece na realidade, mas você tem que inventar linhas imaginárias em torno dele, né? Eu estou vendo aqui a Rochelle, por exemplo, ela não tem, não tem um perfil, não tem uma linha em volta, eu aqui vou inventar a linha para poder fazer o que? O contraste no papel de modo que a figura aparece, então você desenha a figura luminosa através da sombra, jogando com a sombra, claro, que limitando a sombra, o estreio também é necessário para que as coisas apareçam. E então, nesse sentido, eu observei, por exemplo, a vida de um amigo meu, eu gostava muito dele, pessoalmente, muita gente que o odiava, mas para mim ele sempre foi bom, que foi o Livio Vinardi. O Livio Vinardi era um Gurdjofiano, ele diz que ele era um discípulo de um dos 12 companheiros do Gurdjofos, somos homens notáveis, um japonês chamado, eu acho que era Kikishi, Sakurai, uma coisa assim. Eu não acredito nisso, porque toda a história dos encontros com homens notáveis é tudo uma comédia fora do comum, né? Mas esse homem, o Livio, levou tudo aquilo, a sério, criou uma escola, Gurdjofiano, tinha as suas disciplinas, seus exercícios, etc., etc. O Livio era um gênio, era um fantástico, era um homem que era doutor em Física, que era concertista de piano, ainda dirigia essa escola Gurdjofiano, inventou uma série de estudos que ele chamava de biopsychonegiatrica, cuja aplicação, o corpo humano, tinha de fato alguns efeitos extraordinários. Então, por exemplo, essas flexões que um esportista bom faz 70, 80, o discípulo do Livio fazia um mil. Então, como é possível isso? Então, ele era um sistema que inventou de você captar energias do ambiente e condensá-los no corpo humano. Bom, só que quando ele fez 50 anos ele tem uma série de infartes e acabou. Isso é mais ou menos como que luta do japonês como ele falou do cara. Bruce Lee. Esse que o Bruce Lee fazia exercício 24 horas por dia, tanto fez que com 28 anos estourou. Então, eu disse, bom, a tragédia do Livio é que o Vinaldi foi elevar esse negócio integralmente a sério. Mas existem muitas frases e preceis do Gurdjofiano, que se você as interpreta no sentido cômico, no sentido paródico, nossa, eles iluminam tudo. E um deles, um desses, dessas fórmulas, é, os fins não interessam, só os meios importam. Comecei a pensar nisso e comecei a ver como comparar isso com a filosofia da ação que eu estava desenvolvendo, da ação e do poder. O que é uma ação? É a modificação do estado de coisas. Estou entendendo que você pegar um estado de coisas e revertê-lo, ou seja, o estado anterior também é modificado. Então, a ação seria, ou a modificação ou a conservação intencional de um estado de coisas. Portanto, a ação pressupõe que você anteveja um resultado e que você reúna os meios necessários para produzir aquele resultado. Acontece o seguinte. Você pode inventar suas finalidades livremente, inventando o que você quer, o que você acha bonito, etc. Vamos fazer, produzir tal coisa. Mas os meios não estão à sua disposição. Os meios só existem, num uma quantidade e numa qualidade específica. São os meios disponíveis no momento e no lugar onde você está. Então, aquela famosa história do Gurv, que mandou o rito, derrubar uma árvore usando uma colherinha de café, ilustra isso perfeitamente. Se você tenta derrubar uma árvore com a colherinha de café, aqui vai cair você e não a árvore. E no entanto, o supônico discípulo dele credulamente ficou lá a mesa tentando derrubar a árvore, esperando que daí resultasse uma iluminação, alguma coisa. Esse é o rito interpreto aquilo como uma disciplina. Uma disciplina, evidentemente para o sal, mas que deveria render flutos espirituais. Mas não era uma disciplina, era uma paródia. Está propondo uma coisa impossível de tal modo que alguns percebem, mesmo assim, que é impossível e entendam que esta impossibilidade é a mensagem. A mensagem não é um estalo, uma iluminação que você vai ter depois de meses e você escavar em vão a casca de uma árvore com a colherinha de café. E assim por vários outros exercícios, o Gurdjof me pareciam ser exatamente a mesma coisa. Então, uma vez o Gurdjof chegou em Nova York, ele foi dar uma entrevista de imprensa em Rão Unido, representando os vários jornais, estações de rádios, etc. E ele começou a conferir explicando que tudo que os seres humanos faziam, tinha uma motivação sexual. E ele estava demonstrando que tudo só pensa em sexo o tempo todo. E ele foi criando uma atmosfera favorável e o encontro estava quase virando uma suruba geral. E daí o Gurdjof dizia para, para, para, foi só para ilustrar. Para ilustrar o que? A teoria de que a motivação de tudo é o sexo, não. A teoria de que vocês são bandidos, que vocês se acreditam, as pessoas mais informadas do mundo, os jornalistas estão no centro das informações, vocês não entendem nada, vocês são idiotas, qualquer cara chega e faz vocês de trouxa. Como fez de trouxa uma infinidade, gente, ele pegou, ele foi num lugar mais impombado e arrogando o mundo da associação médica britânica, pegou os bambambãs da medicina britânica, ele fez tudo de idiota. Eu vi a mesma coisa feita por um continuador do Gurdjof que era o Idr. O Idr. O Idr. Ele fez o seguinte, o Gurdjof com o dinheiro que ele arrancou dos discípulos, ele comprou um castelo, que era o castelo do Priarreito, do Priorado. E morou lá até morrer. Quando ele morreu, ele disse eu vos deixe em maus lençóis e ele tinha dito uma vez que o ensinamento dele seria continuado talvez por alguém e não tinha continuador nenhum, os discípulos ficaram absolutamente desesperados e saindo procurando quem é o continuador do mestre. E daí esse cidadão chamado Idr. Já, que é um indiano de nacionalidade britânica, começou a publicar em várias revistas, artigos, como se ele fosse um dos chamados buscadores Gurdjof, pessoa que está no oriente, lá buscando as raízes do ensinamento Gurdjof. E tinha vários relatos dessas buscas e todos esses relatos das buscas convergiam para uma pessoa que era quem. Ele mesmo. No fim, os principais discípulos do Gurdjof, lendo aquilo, dando tratos à bola, tipo, olha, deve ser esse cara aqui, ele publicava essa coisa com vários pseudônicos, uma impressão que são pessoas diferentes. O Idr. já era muito engenhoso, ele conseguia escrever em estilos diferentes. E no fim, foram procurar, o Idr. já ia perguntar, mas o senhor, que é o continuador, ele disse, sou eu mesmo. O que é para fazer, mestre? Ele disse, o seguinte, venda o caçal do prunho e me traga o dinheiro. Assim, naturalmente aquilo deu uma crise, metade aceitou, outra metade não aceitou, metade continuou o ensinamento Gurdjof, fortodoxo e metade aceitou no discípulo do Idr. já. Eu não conheci o Idr. já pessoal, eu não conheci o seu irmão, que era o continuador, Omar Ali-xá, e estava na cara que o sujeito era um gozador quase tão temível quanto o Gurdjof. Eu não sei contar aqui muito algumas cenas que eu observei, mas estava na cara que aquilo tudo era paródico e tem gente que leva tudo aquilo a sério, literalmente até hoje. E se submete a tudo que tem tipo de disciplina inútil, como escavando o carbole com colherinha de café ou fazendo coisa mais idiota ainda e esperando que deste exercício vá resultar uma iluminação. Eu vim em número as pessoas submeter a isso e ficar totalmente idiotas. E o processo dessa idiotização é exatamente aquele que eu descrevo na apostia. Só que este efeito só acontece se você quiser, se você não quiser, não só se liberta daquilo imediatamente, como tira um proveito cognitivo extraordinário, porque você começa a ver a verdade através do contraste com a sua paródia. E isto é sempre útil para a mente humana que necessita dos contrastes. E foi isto mesmo o que me baseou para eu fazer esta breve análise. O que eu fiz nesse encontro direito ao conservadorio no Brasil e que eu tenho que mexer ali brevemente com temas que eu já toquei nesta aula muitas vezes. E o principal é sempre a aplicação deste preceito. Eu disse ali o seguinte, eu disse, se vocês não esperem que eu faça um programa para um partido ocorrente político, eu jamais farei isso, no dia que eu fiz esse experimento em Interna, porque eu vou estar com Alzheimer, a minha atividade consiste em duas coisas. Primeiro, descobrir quais são os preceitos metodológicos gerais de toda e qualquer ciência política ou história política. Então isso está resumido na apostila, problemas de metanacência sociais e inúmeras aulas que eu dei. E o que eu faço a parte? Consiste exemplificar esses métodos mediante a análise de situações de fato, isso é de pontos precisos, é só isso que eu faço. Eu não estou aqui pregando ideias conservadoras, nem criando uma ideologia, nem coisinha, só idiotas acham isso, porque para você perceber que nada que eu estou fazendo, você não precisa ler minha obra inteira, basta, você lê os postos do Facebook, os artigos, você percebe. E o que eu estou dizendo não coincide exatamente com nenhum programa de nenhuma corrente política existente, mas que eu posso transitar livremente entre todas elas, porque eu estou em busca, vamos dizer, da realidade do processo político, está certo? E não de um programa que possa ser levantado como bandeira. E, por exemplo, na primeira eleição do Lula eu disse contra a opinião quase unânime, ou quase unânime, dos especialistas, entre aspas eu disse o Lula não apenas vai vencer a eleição como é impossível que aconteça qualquer outra coisa, ou seja, isso é não só real, mas necessário. Fui usando esses métodos, vendo, vamos dizer, a ação que os outros estavam empreendendo e que resultados efetivos poderiam adivinhar daí, está certo? Então muitas outras previsões que eu fui fazendo também, a mesma coisa com a análise que eu fiz do impeachment, olha, o impeachment foi feito para preservar a classe política que estava ameaçada de destruição em março de 2015, é dito e feito, porque se você quiser dizer, ah, nós temos que passar o Brasil a limpo, como o pessoal dizia, falar, bom, este é um objetivo proclamado, qual é a ação, quais são os meios de ação que você pode impor em movimento para alcançar isso? Ah, o impeachment, falar, ah, ah, ah, este meio não serve para produzir este resultado, ele vai produzir um outro resultado, né? E como, tal como expliquei nesta breve alocução nesse encontro, a ideologia de março de 1968 alegadamente formulada para libertar os seres humanos da alienação e da opressão psicológica, a gente trata mais da opressão econômica, como o marxismo antigo, mais da opressão social, da microagressão, como eles chamavam, a microagressão pode ser uma piada, um olhar feio, qualquer coisa que faça você se sentir mal. Não vai libertar, os caras dizem mais ao contrário, vai criar o sistema político juído com o mais opressivo de todos os tempos. Como é que eu sei disso? É só isso é final, o problema que quase todos os cientistas políticos ignoram o problema de um negócio chamado Meios de Ação, né? Nós dentro a discutir os ideais do cara, tem que ver como você vai fazer, qual é a ação a ser empreendida para produzir esse resultado. E daí você vai ver quais são os Meios de Ação e que resultados devem adivir necessariamente do emprego desses Meios de Ação. Isso não é mais uma raça assim no probabilístico. Então, raça assim não é aqui não pelo efeito positivo, mas pelos limites, pela impossibilidade do oposto. Então, quando Karl Marx diz, por exemplo, o socialismo começa estatizando os Meios de Produção e depois o Estado é eliminado. E o que ele quer dizer com o Estado é eliminado? O Estado é unipresente. Se ele é unipresente, ele não existe mais como entidade separada. Ou seja, o que vai sumir não é o Estado, é o conceito do Estado. Ou seja, você vai estar totalmente sob opressão do Estado, não você não vai ter sequer o nome Estado para você saber quem está te oprimindo. Então, é como você diz, é o preço. Só pode resultar daí opressão perfeita. Não é possível produzir outro resultado por esses Meios do mesmo modo. Se você ler sobretudo Michel Foucault e Robert Marcusa, que são os ideólogos maiores do movimento 68, você vai ver que eles falam da microagressão, da microfísica do poder, como diz o Michel Foucault, quer dizer, é um poder que se exerce fora do aparato institucional, que se exerce de pessoa a pessoa e que tem que ser combatida, segundo o Herbert Marcusa, pela politização do cotidiano, politizar todas as relações humanas. Bom, mas o que você entende por política? O que é política? A única definição de política que circulou no século XX se tornou famosa foi a do Carl Schmidt. A política é aquela área da existência na qual os conflitos não podem ser resolvidos racionalmente e, portanto, tem que ser resolvidos pela força. Somam seus adeptos, os inimigos somos adeptos e eles vão ver quem pode mais. Então a politização do cotidiano significava levar esse espírito do conflito político a todas as dimensões da vida humana, inclusive as mais íntimas. Até o coração humano era invadido por isso. Quem pode alcançar a liberdade por esses meios? Isso é absolutamente impossível. Então o que se produziu em seguida que foi essa aliança entre os grandes grupos econômicos, os grandes organismos estatais e interestatais como o ONU, a União Europeia, etc. e a militância esquerda está promovendo exatamente esta modificação, esta politização do cotidano, na qual todo mundo, no fim das contas, é oprimido. Por que você acha que os pessoal para o que exista, o feminista, quanto mais direitos entre a fórmula eles conquistam, mais eles se sentem oprimidos? Porque estão sendo oprimidos mesmo, meu Deus, vocês estão todos engensadinhos. E a possibilidade de você dizer não a qualquer coisa está no lado, porque quando você rejeita uma proposta, você já está aceitando outra automaticamente. Por exemplo, você é contra a imoralidade, você quer uma ação estatal moralizada, então você já virou no Sul, meu Deus do céu. Você é contra opressão islamica, então você vai aderir o gaisismo, essa coisa. Não tem para onde correr. Esse cotidano foi politizado, então a política invadiu todos os setores da existência. E como eles diziam, o que é pessoal é político. Eles fizeram realmente isso. Antigamente havia áreas da realidade que eram imunes à ação política, há mais íntimas, por exemplo. As pessoas dizem se existe a famosa conferência do Max Weber, a política com vocação, essa é a convocação, onde ele se refere ao refúgio na intimidade, se o mundo inteiro está tudo corrompido, alienado, etc. Então as pessoas buscam o último refúgio na sua vida íntima, por exemplo, se trancom com a sua mãe, com a sua namorada, a um lugar e ali eles têm, vamos dizer, um experimento breve de vida autêntica, de comunicação real. Se você politiza o cotidão isso também acabou. Quando você se encontra com a sua namorada, então vou lá, vocês trocando estereótipos políticos. Então isso é a eliminação da convivência humana. Total. Não só para os cristãos, mas para os próprios agentes desse processo, que naturalmente vão ficar cada vez mais revoltados quanto mais vitórias conseguirem. E é exatamente o que nós estamos vendo, só que digo eu, a experiência histórica comprovou isso, mas precisava 30 ou 40 anos de experiência histórica, isso não estava embutido no próprio conceito da coisa, claro que estava, só que para isso você precisava pensar o conceito à luz da realidade e não o conceito abstrato em si mesmo. Então o pessoal como Rebra Macuza ou Michel Foucault, eu digo simplesmente não são filósofos, que a primeira obrigação do filósofo é confrontar suas ideias com o processo da experiência real e não se encantar com as ideias em si mesmas e sair apregoando, levantar um cartaz etc. Como se aquilo fosse só um dos problemas da humanidade. Então com o estado de alienação que Rebra Macuza ou Michel Foucault escreve, é perfeitamente real, só que essa alienação piorou muito pelos métodos que eles mesmo inventaram. Então eu não posso dizer que eu não devo estar descoberta a simples frase do Gurdjav, os fins não interessam, só os meios importam. Como é que eu não vou estar grato a esse sujeito apesar de todo o malefício que ele fez aqui acredito nele? Eu tenho impressão que se eu encontrasse o Gurdjav, ele diria meu filho, só você me compreendeu. Assim como por exemplo, se você lê mil senhorã, se você lê mil senhorã, fica vontade de meter uma barra na cabeça, mas mil senhorã avisou que ele me compreende e sabe que eu sou um palhaço. E eu fiz uma conferência na Romênia dizendo isso para um grupo de intelectuais romanos de milícima ordem e na medida que eu ia explicando esse, eu falei assim, o truque da estética do senhorã é esta, é tudo monstruosamente exagerado para você perceber que simplesmente não é assim. Um pouco tem similaridade com o método do Victor Franco, da hipereflexão. Se você acredita, por exemplo, que você pegou uma paranoia, se acredita sendo perseguido, então bom, haja como um perseguido. Leve isso a sério e veja onde chega. Intensão, perdão, perdão. Hipereflexão é intenção para o doxal. Então este método, tanto do Gurdjev quanto o do Emilio Choran, não passa da intenção para o doxal do Victor Franco, que foi descoberto mais ou menos na mesma época. E se os entendemos assim, é quase impossível não tirar algum proveito cognitivo real dessas coisas. Então, bom, evidentemente eu gostaria que todo mundo quando lê as minhas coisas ou as minhas aulas entendessem que é isso que eu estou tentando mostrar. E que com base nisto, nós não podemos criar nenhum programa político, não podemos levantar nenhum ideal, não vamos defender valores, etc., etc., nós estamos apenas tentando nos orientar na realidade. E quando você descobre, por fim, vamos dizer que a estrutura da realidade são os mais amens de Deus, você não descobriu isto da maneira como, em geral, as pessoas discordam. Não, você descobriu pela experiência efetiva. E agora isso vem com uma força de persuasão real que é uma coisa impressionante. Então, muito bem. Hoje eu não vou responder as perguntas, nós estamos aqui esgotados, ele é Rochânio, depois desta maratona que nós fomos lá na exibição do filme. Eu já tinha as afleções, eu fiquei muito impressionado porque o público inteiro, parecia já estar informado em alguma coisa. Não houve uma pergunta deslocada, nada, nada, nada, nada, nada, quer dizer, todo mundo estava entendendo tudo. Ora ser compreendido é uma coisa que é muito rara para os escritores. Claro que tem um número de pessoas que não só não me entendem, mas fazem confusão em cima, também é muito grande. Mas são pessoas que estão mais distantes, nunca frequentaram as aulas, nem leram as minhas coisas. Mas o número de pessoas que estão entendendo o que eu estou dizendo é muito grande, eu estou muito satisfeito com isso. Muito obrigado a todos vocês, até a semana que vem, muito obrigado.