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Você quer dizer que a maior parte do que eu disse nesse curso, você refere aquele tipo de leitura que o certe ar chama de leitura formativa. Eu concentrei o curso nisso aí porque me parece evidentemente esse é o tipo de leitura mais importante e os outros tipos. Eu não reconheço muito a existência do tipo de leitura que ele chama inspiracional. Eu acho que isso aí entra bem na... também é um tipo de leitura formativa, então se reduziriam a três. Fora disso você teria a leitura informativa e a leitura por divertimento, por entretenimento. Eu acho que isso aí não vê porque isso deveria ser objeto de um curso especial, já que não implica nenhuma dificuldade, você está apenas alimentando informações, certos esquemas cognitivos que você já tem. Então, não creio que isso necessita uma atenção especial, mas a questão da leitura formativa é realmente básica. Eu espero realmente que os alunos se concentrem mais nesse tipo de leitura. O material que existe para isso é imenso. Nós nunca vamos terminar de assimilar e essa formação ela deve prosseguir pelo resto da sua vida. Portanto, os cuidados que se devem ter com essa leitura são mais apurados, por assim dizer. E como nós vimos, as dificuldades são duas. Primeiro, as pessoas não entram na leitura às vezes com a expectativa correta, a expectativa é diminutiva, por assim dizer. Em vez do trecho de se abrir para aquilo que está, mesmo para além do próprio texto, a pessoa concentra no próprio texto. Então, a ambição de conhecimento que move as pessoas é modesta demais. Esse é um primeiro problema. O segundo problema é a pressa de você julgar. Se você julgar alguma coisa, quando você se coloca na posição de juízo, você está se colocando acima do objeto que você está julgando. E basta isso às vezes para você perder toda a oportunidade de você crescer, de você se desenvolver até a altura ou a dimensão do horizonte de consciência do autor que você está lendo. Então, é melhor uma leitura ingênua que concorde com tudo e se deixe conduzir e deixe o julgamento para mais tarde, se for necessário o julgamento. Na verdade, eu acho que nós só devemos fazer um exame crítico quando somos impedidos a isso pela própria leitura, quando você encontra dificuldades internas da leitura, você encontra contradições, dificuldades ou obscuridades em número excessivo. Aí sim, está certo. Mas não devemos entrar jamais na leitura com o espírito de julgar. O julgar é só quando for necessário. Então, você pode se perguntar assim, mas por que eu deveria julgar isso? Quer dizer, qual é a importância de eu julgar isso? Qual é a importância de eu ter uma opinião sobre isso aqui? Por que eu preciso ter uma opinião? No começo do curso, aqui nós pedimos ao aluno que fizesse um voto de pobreza e matéria de opinião. Isso não quer dizer que nunca mais eles vão ter opinião, apenas eles vão alimentar a sua opinião com conhecimento, com experiência, com meditação, etc. Até que um dia quando abrir a boca é porque terão realmente algo a dizer. O impulso de opinar é uma coisa assim muito forte no brasileiro. Mas por que as pessoas fazem isso? É porque essa emitir essa opinião faz parte da justificação ou fortalecimento da sua alta imagem. Então, é claro que quando o individuo imita essas opiniões, ele vai se apegar a elas pelo simples fato de que ele já as emitiu. Então isso começa a fazer parte da identidade dele e entra num processo de alto reforço e não tem mais como sair disso. Quer dizer que mudar de opinião acaba se tornando muito difícil por causa disso. E demais, a ideia de você fundamentar a sua alta imagem em um conjunto de opiniões só pode resultar em uma alta imagem muito frágil. Porque justamente, você vê quando o individuo está bem estruturado, está bem centrado, ele pode mudar de opinião mil vezes, isso não afeta de melhor alguma vez. Ele não tem apego à opinião. Ele entende que a opinião é apenas um ponto de vista que ele teve num certo momento e que não é necessariamente o todo do objeto. A medida que você vai estudando as coisas, você vai ser de certo modo obrigado a olhar as coisas por vários pontos de vista diferentes e, naturalmente, a sua opinião vai mudar muitas vezes e não há problema algum. Quer dizer, a opinião não pode ser reforço da sua personalidade, ao contrário, a opinião deveria ser uma expressão da sua personalidade. Mas quanto mais inserta, quanto mais frágil a pessoa, mais ela necessita desse tipo de suporte, onde, através da opinião, ela se mostra para uma outra pessoa, que a opinião passa a ser um aspecto dela que é conhecido pelos outros. E ela começa a ser conhecida como o portador desta opinião. E isso cria não só uma alta imagem, mas uma imagem social. Isso é o procedimento mais comum na convivência social brasileira. Mas isso só pode ser uma indústria de personalidades muito fracas. Cada vez mais, vamos precisar da confirmação alheia. Você dá opinião para que concordem. Se não concordam, você vai se sentir inseguro. Então, tudo isso cria, sem contar a crise da língua portuguesa no Brasil, que torna a leitura extremamente difícil. Quer dizer, tudo isso concorre para criar mais obstáculos à educação e, mais ainda, à alta educação da qual a leitura é um instrumento absolutamente fundamental. Então, tudo o que eu disse no curso é para ressaltar, antes de dizer, a ambição de tipo espiritual que você deve ter. Quer dizer, a ideia de você alcançar algo do mundo espírito. O mundo espírito é o mundo da verdade. Então, para tirar proveito disso, você precisa ter uma espécie de consciência permanente e de que o mundo da verdade não é uma coisa que está na sua mente. A verdade não pode estar na sua mente. Tudo que está na nossa mente é puramente subjetivo, é um aspecto nosso e não tem nada a ver com os objetos. Isso também, a verdade não pode estar inteira menos objetos, senão não seria totalmente estranho. E também não pode estar somente, vou dizer, numa relação. Porque quando estabeleço uma relação entre eu e um objeto, é só uma relação possível, aquela que está se observando naquele momento. Mas, o conjunto da verdade sobre aquele objeto transcende cada experiência que nós tenhamos dele. Então, o mais certo é dizer que a verdade é um domínio, um campo que transcende sujeito objeto. E é isso que nós devemos ter sempre em mente quando estamos lendo. Estamos lendo em busca da verdade do que está no texto. Está certo? Nós podíamos até continuar lendo aquele ensaio do honoro delgado. Vocês têm a cópia aí? Eu acho que eu deixei o livro ali em cima, né? Ah, quer que eu não deixe o livro? Aqui, ele prossegue. O aspecto positivo da civilização, ou seja, a cultura enquanto processo sociológico e histórico, representa a objetivação coletiva e sempre mais ou menos imperfeita em obras, instituições, usos e costumes dessa ordem transcendente. Ou seja, o mundo da verdade está sempre de algum modo a nossa alcance através dessas obras, produtos objetivados da atividade criadora humana, que representam ou simbolizam essa ordem transcendente e que nos abrem um milhão de caminhos para isso. Porém, essa experiência tem que ser feita pelo próprio indivíduo. Você não pode dizer que a cultura não vai te dar isso aí. Você tem que ir atrás e necessariamente existe aí um esforço de imaginação sem o qual você não vai chegar a nada. Objetivação que influi sobre as mentes e as nutrias, aquilo que só os homens melhor dotados, os criadores podem descobrir de maneira original. Ou seja, você pode se relacionar com esse mundo, seja como um descobridor original, ou seja, como alguém que vem atrás que segue os passos de um outro que vai ali abrindo. Você lembra aquela imagem que eu fiz na tela? Tô a fonte de luz por um lado e uma rede opaca do outro. Essa opaca por causa do entrecruzamento de muitas linhas simultâneas. Então quando alguém descobre por trás dessa massaroca de experiências, uma ordem, um padrão, então aí você tem uma filosofia, uma obra de arte, alguma coisa desse tipo. Que tornando aquilo um pouco mais translúcido, te abro o acesso a uma fonte de luz e você recebe uma inspiração. A cultura subjetiva se opera pois pela sucepção, quer dizer, a recepção da semente preciosa e tal influência limpa de joio. E os livros do mesmo modo que os estabelecimentos docentes são ou deveriam ser órgãos e canais da sua intensificação. Então agora isso é, ou seja, você dizer que deveriam. Nós entendemos que essa é a natureza das coisas, que as escolas e as obras existem para isto. Porém, ao longo do tempo acrescentam-se inúmeros objetivos menores. Isso pode ser uma tendência ideológica, o interesse de um grupo político, ou os preconceitos de um grupo religioso, assim por diante. E tudo isso pode tornar os próprios instrumentos de acesso a essa fonte luminosa, pode se tornar opacos eles mesmos. Então você precisa ver que você vai certamente conhecer pessoas que viveram na opacidade e não tem menor ideia de que pode haver algo mais do que isto. A própria repetição dos fatores que estão tornando a situação opaca é importante para essa pessoa porque reforça de algum modo a sua auto-image, a sua trama de relações sociais, etc. Então são objetivos infinitamente inferiores que interferem nisso e praticamente destroem o processo da educação. Na hora de você ler um livro, tudo isto e todos esses fatores estão presentes. Afinal de contas, você foi educado, foi alfabetizado no sistema brasileiro, você convive no meio brasileiro. E o que você recebe o tempo todo com uma informação são só elementos que vão tornar a coisa ainda mais opaca. Isso quer dizer que chega a ser um verdadeiro milagre, que algumas inteligências sobrevivem no meio disso e continuem procurando uma coisa mais alta. Isso. Sem contar um fator de ordem mais recente, que é a predominância na cultura mais popular de elementos altamente deprimentes. Quando você vê os filmes hoje em dia, você vê que nesses filmes a profissão normal é o sujeito de ser assassino profissional, a mulher se prostituta, o traficante de drogas. Quando você pega os heróis das histórias, quando todos eles são assim. Então quer dizer, está criando um novo padrão de normalidade. Na hora que as pessoas começaram a sair para a rua com tatuagem e piercing, já também criou um novo padrão de normalidade. Quer dizer, antes esses sinais eram característicos, por exemplo, de certas gangues, como por exemplo que acusa no Japão, tatua os seus membros. Então de repente isso se torna um padrão de normalidade. Então aí você tem realmente um esforço de levar as coisas para baixo. Esforço ele é unipresente, mas ele não é unipotente, porque em muitas pessoas ele cria uma repulsão automática. Você não aceita isso. O mesmo processo observa-se na linguagem. Aí isso observa mais no Brasil do que aqui. Nós temos tudo como deu o problema da linguagem formal. Tudo o que nós dizemos tem alguma articulação. E essa articulação pode chegar até à perfeição das formas literárias superiores. Mas essa articulação também ela pode se dissolver, vamos dizer, em interjeições, em berros, em gemidos, exclamações, etc. e essa é uma tendência que é muito forte hoje em dia. Quando você vê esse pessoal vindo rap, ali você praticamente só tem interjeição, xingamento, você não tem um discurso com o mesmo meio e fim. As pessoas vão se acostumando com isso. E se tudo isso fosse apenas um fator externo não seria um grande problema, mas essas coisas se internalizam de algum modo, mesmo que você as odeie, elas estão presentes e elas comem uma parte da sua atenção. Quer dizer que aí um... Não está aqui, já está cheio aqui. Depois manco um pouquinho que está frio. Quer dizer, não deixa de haver um certo... Mas é necessidade, um certo esforço heroico para você se manter imune a todas essas coisas. Porém, a mais mínima concessão que você faça ao meio incúlter e grosseiro vai de fazer mal. Se você, por exemplo, quer conservar a amizade de certas pessoas que não tem interesse nisso, está lascado. Se você está se elevando culturalmente, você tem que procurar amigos que estão fazendo a mesma coisa. Está certo? Os outros são apenas relações sociais, superficiais, cuja opinião não deve ter a mais mínima importância para você. Isso inclui, evidentemente, a sua própria família. Você não vai maltartá-la, você não vai brigar com eles, mas não há nenhuma maneira de você ter uma relação profunda com eles. Você vai ter uma relação amável, superficial, externa e não vai ficar triste porque eles não entendem o que você está falando. Na verdade, eles não têm obrigação nenhuma para entender porque eles não seguiram os passos que você seguiu. Às certas talvez nem tem uma capacidade para isso. Então, a mudança de meio social é quase inevitável nesse curso disso. Você vê que a cidade universitária foram feitas para isso, para propiciar a convivência entre pessoas que estão interessadas nas mesmas coisas. Só que depois elas começaram a servir outros objetivos menores, sobretudo ligados aos interesses de determinados grupos específicos, ou feministas, ou gaisistas, ou racialistas, etc. É claro que isso deprime formidavelmente o panorama. Tudo isso são obstáculos que pesam e que podem até, no ato íntimo de você ler, tudo isso está presente de algum modo. Essa maneira de você exorcizar isso é você ter em vista uma fonte luminosa a qual você quer chegar. Então, é mais importante você ter essa motivação do que você seguir essaquela técnica. É isso. Então, às vezes tem perguntas. Hoje é para ser só perguntas. Eu não sei se os alunos que estão assistindo online, que são alunos do seminário que não assistiram o resto do curso, estão entendendo o que eu estou falando. Mas com o tempo que acabam entendendo o modo de outro, além desse curso, ele vai ser disponibilizado, mas ele vai ser vendido para quem quiser comprar as gravações. O texto do Honor Delgado foi disponibilizado para todo mundo, só para os alunos inscritos neste curso, Silvio. O texto? É. Ah, sim. Tem um texto no chefe. O livro do texto está no chefe. Ah, sim. Esse texto nós usamos, lembro algumas partes dele. O curso não foi baseado no texto, mas o texto deu pretexto, para dizer para alguns comentários que ilustrava umas coisas que eu tinha dito nas três primeiras aulas. Vamos ver se estou a sua disposição para perguntas. O que você falou da última aula? Bem alta. Você falou da última aula sobre o espírito, a mente, o objeto e a verdade que não está na nossa mente nem está completamente no objeto. Você usou o termo, é a verdade do objeto. Sim. A Istota dizia que quando você percebe um objeto qualquer, você percebe evidentemente a forma física dele, está certo? Mas dentro dessa forma física você tem uma forma inteligível, que é de você entender o que é o objeto. Acontece que essa forma inteligível, ela faz parte de uma espécie, está ligada com outra espécie, tem relações com todas as outras espécies. De modo que nenhuma forma inteligível poderia ser percebida separadamente de toda uma rede de conexões. E isso é o que eu chamo a verdade do objeto. É tudo aquilo que é sabível a respeito dele, embora você só saiba um pedacinho no momento. Quer dizer, todo e qualquer objeto é uma fonte inesgotável de verdade, porque nele estão não somente as verdades que compõem a sua forma inteligível, mas um conjunto de relações que ele tem em volta. Então o conjunto de sentenças que eu pudesse formular sobre esse objeto, isso ainda estaria muito longe de ser a verdade do objeto. Certamente, se você passar o resto da sua vida falando sobre aquele objeto, você não vai esgotar a verdade dele. Por exemplo, quando você vê um animal qualquer, você vê uma vaca, de bom, onde estava a vaca? Ela estava dentro do apartamento, provavelmente estava num pasto, então ela tem uma relação com aquele território. Da onde surgiu a vaca, ela apareceu por si mesmo, ela foi gerada por outra vaca, ela tem toda uma história. Você não conseguiria fazer árvore genealógico de uma vaca. Como então desarvore genealógico existe. Isso é importante. Quer dizer, o campo da verdade é muito denso, justamente por ser denso é inesgotável. Agora, de certo modo, qualquer ato de percepção está abrindo você para esse campo da verdade, o qual você, se você lançar uma luz, que é a luz da sua atenção, mas essa luz tem um alcance limitado, ela vai até um certo ponto e depois, para adianta tudo escuro. Mas está tudo escuro para você, mas você sabe que a verdade está lá. Isso então é isso que, na Bíblia, descaminhar diante de Deus, quer dizer, você estar diante da verdade o tempo todo. Você saber que ela está ali, ainda que ela esteja inacessível para você. Um dos grandes problemas da filosofia dos Três Últimos Céculos foi que ao se concentrar na atividade do sujeito e querer explicar todo o processo cognitivo pela estrutura do sujeito, chegou a problemas absolutamente insolúveis. Isso aí você vai chegar, então o resultado será algum tipo de cantismo, onde todo o nosso conhecimento não passa da projeção das nossas formas cognitivas sobre um mundo que em si mesmo permanece caótico. Então nós seríamos, por assim dizer, a fonte da verdade. A verdade não é o que as coisas são, mas aquilo que coincido com as formas a priori do nosso conhecimento. É isso aí, você vai chegar nisso. E é claro que isso, evidentemente, é uma tragédia. Primeiro lugar, porque coloca o próprio ser humano como fonte da verdade e transforma o mundo em volta ao universo inteiro em uma espécie de caos. É um caos feito de uma poeira de impressões que só a nossa mente dá uma unidade e um sentido. Falei isso absolutamente impossível. Eu vejo, por exemplo, que nós sabendo nos orientar no espaço, nós temos noção de em cima, embaixo, direito, esquerdo, para frente e para trás. Isto poderia ser uma forma da nossa percepção que nós projetamos sobre o espaço? Se fosse assim, eu só poderia conceber isso mentalmente, mas eu não poderia caminhar nesse espaço para que eu caminhe nessas direções e necessário que elas me transcendam de algum modo. Eu que estou dentro delas, não elas estão dentro de mim. Então, há muito tempo eu já comecei a imaginar essas formas a priori como sendo formas do próprio universo, que de algum modo se imprimem no ser humano e se imprimem imperfeitamente. Quer dizer, você continua precisando do mundo externo como se fosse um lembrete, um elemento nemônico, o que você esquece o mundo se lembra. Já não tem acontecido de você acordar e não se não saber onde você está? O que você faz? Você olha em torno e reconhece o mesmo lugar. Se não fosse isso, se toda a ordem do mundo depender da projeção das nossas formas, nós seríamos apenas sujeitos congrossentes, nós não poderíamos agir e estar no mundo. Então, quer dizer, em torno de nós você tem, você tem uma infinidade de objetos e das suas relações, e por cima e para além desses objetos você tem a verdade deles. É verdade que os transcende infinitamente, por exemplo, o simples fato, voltando ao exemplo do animal, quando você vê o animal é só ele que está presente, mas ele não saiu do nada, como diz ele, tem uma arborgenéologia que remonta até o começo dos tempos. Isso é real, isso instala nele, mas ao mesmo tempo o transcende infinitamente. E você sabe que sem isso ele não existiria. Isso, do mesmo modo, por exemplo, quando um casal tem relações sexuais, todos os ancestrais deles estão ali presente, a arborgenéologia inteira está ali presente. Isso, senão não seria possível a toda geração. E se você não percebe isso, então você está vivencendo essa situação de maneira abstratista, você está vendo só um pedacinho, você recortou um pedacinho e só presta atenção nele. Quer dizer, esse é o pecado do abstratismo, você achar que só existe aquilo no qual você está prestando atenção. Em vez de você ampliar seu círculo de consciência para vivenciar as experiências de uma maneira cada vez mais cheia, cheia de todos os elementos que as compõe realmente. Diga. Sim, sim, sim. Abstração é um elemento absolutamente necessário para a vida prática, mas não para a formação do seu espírito. Quer dizer, não é porque a situação prática me impõe tal ou qual a limitação que eu vou decretar, essa limitação como sendo a fronteira última do universo. Quer dizer, inclusive o ato de abstração é só realizado de uma maneira perfeita e exata quando você sabe da onde você abstraiu as coisas. É sempre que esse ato de abstração se fecha em si mesmo, ele se torna imperfeito, ele se torna errado. Você não sabe que pedaço do que você está separando. Na verdade, se você pensar bem, a nossa própria existência de todos os dias é um pouco abstrata, porque nós mesmos somos abstrações até certo ponto. Isso é aquilo que nós sabemos de nós mesmos é puramente abstrato. Eu não tenho conhecimento da minha realidade concreta. De vez em quando eu tenho algum vislumbre dela. Mas é um negócio, o mundo concreto, ele está sempre aí. Tanto o mundo dos objetos quanto o mundo da verdade, ele está sempre aí, ele não vai fugir. Nada impede você de voltar a ele de novo e de novo e de novo e de novo e de novo. E você iria se enriquecendo a sua vida interior, ampliando o seu horizonte de consciência. Então, especialmente quando você vai examinar algum assunto em especial. Nisso, você se concentra naqueles aspectos que chamaram a sua atenção. Mas você sempre tem que saber que existe algo por trás daquilo, algo que tornou aquilo possível. Esta é a pergunta. Para que estas coisas existam, o que mais precisaria existir? Para que estes seres estejam presentes, o que tem que estar por baixo deles e ausente a se sentir. Mas no começo do curso eu dei alguns exercícios para as pessoas se acostumarem com essa ideia. Por exemplo, você sentir que você está em cima de um chão e que este chão se prolonga até o outro lado do planeta e que a pessoa está andando do outro lado. Isto é verdade. Nós não pensamos nisso no dia a dia. Isso quer dizer, a nossa mente funciona sempre na base da abstração. Não temos outro meio de funcionar. Mas ao mesmo tempo nós temos consciência da verdade que transcende o campo da nossa abstração. E essa abstração se torna mais rica e mais exata na medida em que você tenha consciência desse fundo, para acender esse fundo de ser o qual as coisas não poderiam existir. Isso quer dizer, a pergunta é sempre essa. Para que esta coisa exista, o que mais precisaria existir? Isso também tem um análogo naquilo que eu disse da leitura. Você está lendo uma afirmação dos sujeitos e você pergunta assim, para ele saber isto, o que mais ele precisaria saber? Ele escreveu uma parte do que ele sabe, mas para ele saber isto tem outra coisa que ele tem que saber e que ele não escreveu. E vamos dizer, isto é a verdade do horizonte de consciência dele. Está entendo? E é justamente aí que você vai adquirir o sentido do que são, no Deus, autores verdadeiramente grandes, são aqueles cujos horizonte de consciência se prolongam até uma região que você nem enxerga mais. Eu passo em outros casos, o horizonte de consciência é tão limitado que o próprio sujeito não se enxerga a si mesmo. Você leu meu livro no sobre Marte Avel? Leu? Alguém leu aí? Então ali você fica demonstrando o horizonte de consciência do jeito tremendamente estreito. Ele não enxerga o que ele mesmo está fazendo. Ele tem uma compreensão precária daquilo do material que ele está lidando. Mas em si caso a pessoa fala em vender e domigênto, e a atenção é voltada sobre si mesmo, em caso aqui a vela ou a viagem, mas quando você volta a atenção sobre si mesmo, ela vai ficar muita coisa de fora, mas escapa eternamente. Uma coisa é o que está dentro do seu campo de consciência. O horizonte de consciência transcende o campo de consciência. O campo de consciência é o que eu estou pensando agora, o que eu sei agora. O horizonte de consciência é tudo aquilo que eu tenho a capacidade de perceber, embora não esteja percebendo neste momento. É aquele fundo de coisas que eu sei, mas nas quais eu não preciso necessariamente estar pensando agora. Mas para além do seu horizonte de consciência existe o mundo. Todo o processo abstrativo é absolutamente necessário, mas ele se torna errado quando você toma abstração como uma realidade. Quando ela não é uma realidade, ela é apenas uma visão da realidade. Então é por isso que por baixo da atividade da mente existe aquilo que eu chamei o conhecimento por presença, que é o seu sentimento, a sua percepção de existir num mundo. Um mundo que é real, que não depende de você, que vai continuar aí depois de você ter saído dele. E pior que não abrange somente este mundo físico aqui conhecido. Eu tenho outras dimensões espirituais, as quais não temos acesso no momento. Tudo isso é um mundo. Claro que essa imensidão pode até nos aterrorizar. Isso é um negócio do Pascal, a solidão desses espaços infinitos me apabora. Ele diz que sim, mas o fato é que você está dentro do espaço infinito. Não adianta você fingir que você não está, que você está só dentro da sua casa. Então esse deixar-se levar pela percepção do mundo concreto, por mais deficiente que ela seja e por mais que essa abertura te perturbe, é essa exigência sem a qual nunca estaremos na realidade. Você está sempre dentro do mundo de história da carotinha. Você veram, por exemplo, eu durante muito tempo estudei Karl Marx. E um dia eu percebi que para Karl Marx a natureza física só existia como matéria-prima da indústria e da técnica. Eu não tinha uma existência própria, ele não concebi a natureza externa. A natureza está aí só para ser transformada. Ele disse assim, olha, de tudo que o ser humano transformou desde que ele existe, enquanto do universo físico ele mexeu num pedacinho de um planetinha. Portanto essa concepção, ela inverte a hierarquia da realidade. A natureza não está aí para ser transformada. Só um pedacinho dela é transformado. Então nós estamos dentro dela e nós sofremos as determinações dela, quer dizer, determinações das quais a ciência conhece apenas um pedacinho. Existem outras dimensões que mal começam a ser exploradas, como por exemplo esse famoso fenômeno da ressonância amórfica, o Roper Scheldrich, que é um campo novo e inexplorado e que mostra, por exemplo, a simultaneidade de certos fenômetros que acontecem há milhares de quilômetros de distância. Para que você tenha um grupo de ratinhos que está aprendendo a sair do labirinto e na hora que ele descobre a sair do labirinto, um outro grupo de ratinhos do outro lado do mundo descobre a mesma coisa. Isso quer dizer que existe, entre eles, um tipo de ligação que nós não conhecemos. Isso quer dizer, toda hora a ciência descobre mais desses fenômetros, a ciência descobre mais problemas do que soluções, mais pergunts do que respostas. Isso é normal. Quer dizer, o fato de você estar num universo em aberto que te transcende infinitamente, é de, se você não tem este sentido, você está fora da realidade. Porque essa é a condição na qual você está, não só um universo espacial, mas um universo temporal também. Pensa bem, até onde você conhece, por pra história da sua família. Os ingleses costumam dizer que no Brasil ninguém sabe quem foi seu avô. Então quer dizer, as árvores genialóricas terminam duas gerações para trás. E no entanto, todas as tendências hereditárias estão em você. Você as carrega, só que você não sabe quem elas são. Você estuda que é o negócio do zonde, da psicologia do zonde? Você vai ver, o peso enorme que os antepassados têm na formação da sua conduta, das suas emoções etc. Então, ele compare, um banco de personagens que está dentro de você exigindo que você repita o destino deles. Mas você não os conhece? Quer dizer, a verdadeira situação do ser humano no mundo é de um bicho que está andando no escuro. Quando ele só enxerga um metro para frente. É sempre assim, sempre foi. E um fenômeno espantoso é o conjunto de rituais quase obsessivos que os seres humanos criam para atenuar essa impressão. Para ter a impressão de que eles estão no mundo fechado onde eles conhecem tudo. Ou seja, é uma técnica de fugir da realidade. Mas a fuga até certo ponto é necessário porque sem ela o mecânico de abstração não pode funcionar. Mas se você perde a consciência de que é uma fuga e de certo modo um fingimento, então aí se desce a Deus a realidade mesmo. Sim, existe apenas uma analogia entre o que o sujeito foi. Mas essa analogia ainda que ele tem expressado a coisa emperfeitamente, você sabe do que ele está falando. Porque vocês dois estão no mesmo mundo. Então você vê, essa é uma das minhas tese fundamental. O mundo, o mediador da linguagem. Se não existisse o mundo em torno de nós, a linguagem não poderia funcionar de maneira alguma. Você vê, é possível duas pessoas se comunicarem sem uma saber a língua da outra. Você aponta um objeto, por exemplo. Mas para isso o objeto tem que estar presente. Você está num país estrangeiro, você não fala língua, mas você vai no supermercado e mostra uma salsicha. E se isso é possível, porque a salsicha está ali? Agora não seria possível a comunicação entre dois falantes que não tivessem presença física. Então quer dizer, longe da linguagem, cobrir o mundo, ao contrário, ela se consiste apenas em uma série de fios soltos num espaço infinito e volta. E você entende o que os caras estão falando? Não porque a língua ser um sistema, não porque vocês falam a língua, mas porque estão no mesmo mundo. O mundo, portanto, não se refere, somente aos objetos dos quais você está falando, mas às intenções e gestos das pessoas. Você quando uma pessoa fala alguma coisa, você entende não somente o que ele está falando, mas também a intenção com que ela está falando. E a intenção o que é? Uma ação possível, uma ação potencial. É curioso como a capacidade que o ser humano tem de avaliar essas coisas é um negócio absolutamente extraordinário. Se você percebe que um fulano odeia um terceiro, ele não disse nada, foi só pelo jeito que ele falava, você percebe que ele odeia o fulano e você percebe instantaneamente que esse ódio não é suficiente para levá-lo a matar o fulano. Se você não percebe isso, você não entendeu o que ele disse. Quer dizer, a compreensão da língua vai além daquilo que foi dito, porque é complementado, vamos ver por um olhar, por uma intonação. Na verdade, a nossa capacidade de perceber essas coisas é uma coisa extraordinária. Isso tem sido explorado nos últimos anos pela programação neolinguística, que também só arranhou um pedacinho da coisa. Agora, isso tudo, essa percepção também está presente na leitura. Eu noto, por exemplo, que nos últimos anos eu vejo isso sobretudo por mensagens na internet, por blogs, etc. As pessoas no Brasil estão com dificuldade de perceber o tom que uma coisa foi falada. Isso aí é grave, em grande parte eu responsabilizo, por isso, chamo-se maconha. Não, verdade, verdade. A maconha ativa os centros linguísticos e deprime a percepção, deprime a memória. Então a máquina de falar está desligada da máquina de perceber. Portanto, a máquina de ler também está separada. Outro dia eu fiz uma piada, o sujeito disse que foi um desabafo. Eu disse, como um desabafo? Então eu estou falando de gozação. Quer dizer, não perceba o tom. Ele acreditou na piada, literalmente. Tanto que hoje as pessoas quando fazem piada, elas têm que avisar que é piada, senão ninguém percebe. Então isso quer dizer que existe uma imensa capacidade de adivinhação no ser humano. Não é bem uma adivinhação, mas é uma percepção de uma coisa que é meramente potencial. Que é exatamente o que eu chamo o círculo de latência, quer dizer, quando você percebe um objeto, você não percebe só a presença física dele e não percebe só a forma inteligível dele. Você percebe o que ele pode fazer ou o que você pode fazer com ele? Isso tudo está presente. Eu dou um exemplo, você está andando na ruída e um cachorro deitado. Você percebe só que é um cachorro? Quando você percebe que ele pode abandonar a urada, ele pode rosnar para você, ele pode sair correndo para você, pode te morder, pode sair correndo, pode fazer uma série de coisas. Se você não sabe que ele pode fazer tudo isso, você não sabe que é um cachorro, porque você é apenas um cachorro empalhado. Então a percepção dessa força que está presente nos objetos, força ou de agir ou de padecer uma certa ação, essa percepção é imediata. Você está vendo um monte de livros, você pode ler-los, mas não pode comê-los ou não sabe? Quer dizer, a forma deles não admite essa ação. Isso. Você sabe que eles podem cair de estante, mas eles não podem sair voando. Em tudo o que nós percebemos, existe esse círculo de latência. Se some o círculo de latência, você não está percebendo nada. Você percebe apenas formas estáticas que não querem dizer coisa nenhuma. E no entanto, com que órgão dos sentidos você percebeu o círculo de latência? Com nenhum. Quer dizer, isso não é uma percepção sensível e não é somente uma atividade da sua, não é um pensamento que você faz. Por quê? Porque você sabe isso imediatamente. Você não precisa pensar. Então é uma percepção e ao mesmo tempo ela não pode ser atribuída a nenhum dos órgãos dos sentidos. Mas algumas latências são comunicadas da própria forma física de um querido, né? Sim, sim, sim, claro, claro, claro. Deve-se perceber. Não, em geral, é a lação. Normalmente, normalmente é isso. Você vê uma árvore, você sabe que ela não vai sair voando. Você sabe que ela tem uma raiz, que ela não nasce na superfície. Você sabe que ela está afincada de algum modo no sol. Ainda que você nunca tenha visto uma raiz, ela está afincada. Então tem alguma coisa para baixo? Tudo que a gente percebe, a forma sugere as ações que aquele objeto pode desempenhar e as ações que ele pode sofrer. Essa percepção não é total e nem sempre é exata, mas ela está sempre ali. Ela nunca está ausente. Ela só está ausente se você tiver num estado mais ou menos hipnótico, onde você percebe somente a forma externa, o recorte, por assim dizer, o formato. Mas é como se fosse uma presença fantasmal, né? Agora, você imagina, vamos dizer, numa leitura onde você tem uma presença humana, que se viu tal e qualquer coisa, mas no círculo de latência, como é importante? Oi, diga. Qual é a pergunta? Fale bem alto. Dantirri, ele pergunta, como dosar a ansiedade na leitura e como calibrar a atenção para que outras leituras e conhecimentos saberes não interfiram na leitura e tudo? Bom, essa coisa não tem solução, isso aí depende do seu improviso. É claro, ver, existe a ansiedade ler mais, quer dizer, pela própria mecânica, da tê ótica. Você quer prosseguir e ver outras palavras de outras e outras e outras. E daí, a atividade ótica passa na frente da sua atividade imaginária. Esse é um problema. Eu não sei como resolver isso, senão você voltando lá de novo e de novo e de novo. Quer dizer, vale a pena você até ler mais devagar para que isso não aconteça. Agora, que outras leituras vão interferir na sua leitura é inevitável. Por exemplo, você está lendo, supondo que você está lendo palavras que você já conhece de algum modo. Então essas palavras já trazem uma carga semântica anterior. Essa carga semântica anterior não é para... Ela não vai tentar atrapalhar. Você vai supor que a carga semântica que está no texto é mais ou menos a mesma que você já conhece, mas pode haver alguma nuance diferente. Mas se você não tivesse o conhecimento da carga semântica anterior, como é que você ia perceber essa diferença? Então quer dizer que as outras leituras anteriores, elas não têm necessariamente que atrapalhar. Ao contrário, elas ajudam. É o negócio que diz o Borges. Para você entender um único livro, você precisa ter lido muitos livros. Isso também existe, claro, existe a associação de ideias. Que é o sujeito de determinadas palavras, que você leu num outro contexto e você dá essas palavras o mesmo peso que você já conhece. Às vezes você faz isso errado. Uma coisa pode não ter nada a ver com a outra. Quer dizer, uma associação fortuita que se deu na sua mente e que não está na intenção do autor, não está no texto. Isso aí você vai ter que corrigir um por um pelo resto da sua vida. Você encontrava o fato de que no meio brasileiro certas palavras já estão em mantadas de valores emocionais independentes dos seus significados e dos seus referentes. É isso. Então, é o que eu chamo de comunicação animal. O que a gente fala é certos sons que imediatamente vão despertar certas emoções sem referência à realidade externa. Quer dizer, aí o desligamento entra. A palavra usada como gatilho de emoções pode funcionar independentemente de qualquer referência externa. Isso funciona realmente. É um método hipnótico, na verdade. Quando o hipnotizador encosta o dedo na sua mão e diz que é um cigarro e a sua pele parece queimada, não havia cigarro nenhum, não havia o objeto capaz de produzir aquela ação. O estudo se deu dentro da sua mente. Foi a comunicação direta entre a palavra do hipnotizador e o seu cérebro. Eu acredito que a maior parte do que se fala e se escreve no Brasil hoje é assim. É uma comunicação puramente hipnótica. As pessoas não se lembram de olhar para o objeto e dizer, pera aí, mas do que que você está falando. É um exagero do Adler. Idealmente você deve chegar ao ponto de poder explicar. Mas isso é impossível num primeiro momento. Você vai precisar ter um entendimento mudo primeiro. É claro que o que o autor está falando transcende a sua capacidade de explicar, porque se não você teria escrito aquilo e não ele, é. Também eu não acredito que seja muito importante você chegar a esse ponto de poder explicar. Tem impressões que eu tive na leitura 30 anos atrás que eu não sei explicar até hoje, mas elas estão presentes de algum modo. Ele está dizendo isso quando se refere ao conceito dos abstratos. Aí o ideal é que você de fato os domine e você explica-lo. Mas quando você lê a divina comédia, como é que você vai explicar aquilo, meu Deus do céu? Você pega o primeiro verso no meio do caminho desta vida. O que quer dizer esse meio do caminho? Pode querer dizer tantas coisas se nunca vai esgotar. Então é claro que você teria que ser outro dante. Então evidentemente ele está falando de explicações, conceitos abstratos, não de símbolos poéticos. Então o distributedulation do portions doնë, é um aspecto do Materizado com têmlayar. Rosie, porque o עםl87, o fazumcho que é o exfoliante Michaelff e o adam Okebajima algo dentro da dimensão do que eu ensina, é equivalente ao que você diz, você tem que tomar posse daquele conhecimento. Isso não necessariamente às vezes você explica aquilo, mas você introjeta aquele conhecimento e passa a fazer parte de voar. Quando se trata de símbolos poéticos, esse introjetar, esse tomar posse, não quer dizer que você já é capaz de explicar aquilo? Sim. Sobretudo você nota que o indivíduo entendeu uma mensagem poética, quando ele observa análogos dela na vida real, mas esses análogos são ilimitados. Mas é o que aquilo é... No normal, quando você está explicando alguma coisa, você de repente vai ilustrar aquilo, você lembra um verso. Então você está dando mais um exemplo, mais um análogo que apareceu. Você está reconhecendo na realidade análogos daquilo que ele diz, isso mostra que você entendeu. Ainda que você não consegue explicar aquilo, na verdade a explicação de um poema seria apenas um conjunto de análogos que você fez e pode haver outra explicação e outro, e outro, e outro, e outro, e outro, isso não acaba mais. Assim como se você estiver falando texto-sáculo da Bíblia, então aí é que a coisa não acaba mais mesmo. Agora o Adler está dizendo isso porque tem que explicar, os alunos que não estavam durante a semana pularam esta parte. O método do Adler é feito para criar um cidadão consciente da democracia americana, capaz de discutir os assuntos públicos. E suponho que existe uma democracia funcionando, que existam valores e leis conhecidos de todo o mundo, e que a ordem política esteja funcionando. Essa situação não se compra no Brasil, evidentemente. Então o objetivo do nosso curso não pode ser isso. O nosso objetivo é fazer pessoas que consigam sobreviver num meio culturalmente deprimente, e que possam por si mesmo exemplificar uma ordem ideal nas suas obras e nas suas pessoas e possam mais tarde inspirar outras pessoas. Esse é o nosso objetivo, é muito mais ambicioso pensando bem do que o Adler. O Adler está preparando as pessoas para uma circunstância social que já está pronta e que de certo modo os favorece. E nós estamos preparando pessoas para atuar no ambiente onde tudo os desfavorece. É, você tem que abrir, você não tem uma estrada pronta, você vai ter que abrir a picada no facão. É isso? Mais alguma pergunta? A luz pergunta quem é? Alan Emmanuel. A professora, o senhor poderia falar um pouco sobre o processo pelo qual os vivantes e centros de alcanças são chamadas de inversões autênticas? Bom, no primeiro lugar, não é que eles alcançam as impressões autênticas, eles têm impressões autênticas, né? E dessas impressões são anteriores à criação de qualquer obra. Na hora que ele começa a escrever, ele já tem a experiência da vida. E para ele se tornar um escritor que vale a pena ler, é necessário que ele tenha buscado ter essas impressões autênticas, de ver as coisas como elas realmente são. Ou se for um autor de tipo idealista como elas deveriam ser. Quer dizer, ele não pode estar com a mente só recheada de estereótipos. É isso? Tem um escritor inglês, Martin Hems, que ele diz que a literatura é a luta contra o clichê. Quer dizer, o que é um clichê? O clichê é um topos, é um lugar comum que se repete e que tem por si mesmo uma força hipnótica sobre você. De maneira que vende você ver as coisas das quais se está falando, você tem aquela impressão e motiva a partir da própria palavra. Então, você pode ter discursos inteiros que são assim, onde nada corresponde ao objeto nenhum e não obstante, suscita as emoções requeridas. Por exemplo, eu acabo de ler o documento da CNBB falando dos pobres gays que são assassinados. Então você tem a impressão de que existe uma onda de assassinados de gays. Na verdade, não existe. Mas isso provoca uma emoção. Sobretudo tocar um militante e gays existem. Já se sente uma vítima de assassinato. Então você não está falando de uma situação real que está sendo expressa por palavras. Você está falando de uma impressão criada apenas por palavras. Não passa pelo referente. Você só tem signo e significado. O referente em vez de ter algo a ver com o objeto, o referente é apenas criado pela emoção do ouvinte. Então, se você pensar bem, as discussões públicas brasileiras são quase todas assim. E as pessoas não ficam viciadas nisso. Mas é um tipo de esteria. É, claro, esse sintoma estérico. O estérico não acredita no que ele vê nem no que ele sente. E ao contrário, ele sente aquilo que ele disse ou aquilo que ouviu. Então aí você está exatamente nos antípodas do que a literatura. A literatura é obra de pessoas que veem com seus próprios olhos ou veem com seus próprios ouvidos e, de algum modo, conseguem transpor isso numa linguagem. O que é uma operação sempre difícil, porque a língua é a mesma para todo mundo e as impressões são pessoais e diferentes de um por um. Então, quer dizer, você vai ter que adaptar a língua às necessidades expressivas daquilo que você percebeu. Então, no fim das contas, vamos dizer, é um problema moral de você se apegar ao que você realmente percebeu, ainda que seja difícil de expressar. E na verdade, a impressão autêntica é sempre difícil de expressar, porque tudo que nós recebemos como linguagem são lugares comuns. Nós estamos submetidos a um bombardeio de lugares comuns o tempo todo. Então nós não estamos habilitados a dizer aquilo que nós percebemos, estamos apenas habilitados a repetir o que o outro já disse. E a simples aquisição da habilidade de falar como os outros já é um problema. Você imagina, por exemplo, um neguinho que entra na USP e vê aqueles professores falando e ele é teleadiquirir aqueles trejeitos, aqueles cacoetes, aquela coisa. É um problema difícil, é? Quer dizer, a aquisição de uma habilidade, mas essa habilidade sufoca a sua inteligência e a sua capacidade de expressar impressões autênticas. É claro que só pode existir uma literatura digra do nome onde haja um espaço para a individualidade. Se não, a literatura se torna, vamos dizer, uma repetição. Durante grande par de idade média, você não tem nenhuma literatura que vale a pena, porque você só tem atividade mais criadora, ou nas artes plásticas, ou na filosofia. Mas a literatura é apenas um negócio didático para as massas que repetiam sempre as mesmas mensagens. Então ele não tem porque ler essas coisas hoje. Então logo começa, a civilização urbana permite um certo desenvolvimento da individualidade e começa a aparecer uma literatura mais interessante. Também se você observar assim, você pega a história da não-soviética. É claro que existiu uma imensa literatura soviética moldada segundo os canos do partido, só que ela não tem interesse para notar que tudo é igual. Então somente os dissidentes, os caras que estavam na cadeia, é que tinham individualidades uficientes bem desenvolvidas para fazer uma literatura interessante. Mas a doutrinação... Sim, mas não é bem a doutrinação, é uma macaqueação de formas. O intuito podia ser doutrinário. Mas durante a ideia de média a literatura, o teatro, que é a literatura soviética, que ela ainda não é expressão adequada, mas porque eles estavam a servir de uma hegemonia juntual. Sim, sim, sim. A pessoa que hoje, como está lutando no Brasil, não é isso, é só a repetição do conselheiro a cático, a repetição de... Sim, esse aspecto de macaqueação no Brasil transcende infinitamente o problema da hegemonia cultural, vamos dizer, começa com uma luta pela hegemonia cultural. Mas hoje não é mais isso, não. Quer dizer, hoje é uma incapacidade consolidada, mesmo. Quer dizer, é uma crise da linguagem, uma crise da inteligência. Então, de certo modo, essas pessoas nem podem ser doutrinadas mais. E não podem, nem precisam. A palavra doutrinação está completamente inadequada para descrever a situação de hoje. O que você tem, vamos dizer, é um repasse de cacoetes, né? De condutas estéricas, na verdade. Claro, claro, claro. Quer dizer, o essencial ali não é o materialidade. Não é o livro, é a presença do professor. Claro. E eu acho que o processo não é doutrinação, eu acho que é imbecilização mesmo. Não é um modernizer, não é uma coisa depreciativa. Quer dizer, é um professor lesado mentalmente que está, que é copiado por outras crianças que vão ficar lesadas também. Você disse uma vez que para ver doutrinação tem que ter, a ver, tende a ver um pouco de inteligência. É evidente, é evidente. Atimilar aquela doutrinação. Para ver uma doutrina, precisa ver uma doutrina contrária. Ao precisar ver alguma discussão, alguma dialética. Mas isso não existe. Eu sou incapaz de pensar qualquer coisa fora daquele universo dela. Eu não tenho nem com quem discutir. E você observa isso, quer dizer, não é só em criança, você observa em professores universitários. O professor, que bicho estranho é esse chamado consciência humana, que de alguma forma, quando você está esperando as preocupações efetivas para afirmar uma imagem, é uma espécie de busca da identidade. Mas pelo que você está explicando, sobre a forma como a gente deve se colocar, a facilidade que a gente deve tratar a realidade, é uma espécie de caminho contrário. A verdadeira individualidade humana não é uma forma, não é uma figura, ela é uma força. Você não precisa se apegar a determinadas formas, ou a determinadas cacuetas, determinadas maneiras de dizer, você pode mudá-las. E é só quando você percebeu isso que você entende por que que o ser humano pode ser a mesma espécie, pode produzir desde um Platão ou Shakespeare, até um desses professores imbeciles, até os nossos ministros da educação. É a mesma espécie, é incrível a diferença de capacidade do ser humano, é uma coisa monstruosa, não tem nenhuma espécie animal que seja assim. Você não vai encontrar um tigre que seja tão imensamente mais capaz do que outro tigre, ou um gato mais capaz do que outro gato. A escala de qualidade ali é limitada, mas no ser humano não, é praticamente ilimitado, você vai de uma coisa quase angélica até a imbecilidade total. Tudo isso é o ser humano e nós podemos ser tudo isso. Quer dizer, a nossa capacidade plástica de nos remoldar, de nos refazer, tá certo, ele continua crescendo. É um negócio absolutamente ilimitado. Então vamos dizer, o problema da auto-image, a auto-image é uma espécie de camisa de força. No começo você precisa dela para você poder se orientar socialmente, mas depois você precisa poder trocar de auto-image quantas vezes você queira. Se não, você tá preso naquilo. A primeira vez que a sua auto-image é destruída, você fica terrorizado. E essas opiniões são elementos fundamentais da auto-image, que você é conhecido como o sujeito que tem aquela opinião. Mesmo que você não seja assim, as pessoas vestem essa camisa de força em você, elas querem te identificar uma certa opinião que você emitiu no certo dia e que era, vamos dizer, uma etapa do seu aprendizado, sua descoberta, etc., etc. Então no fundo, tudo isso aí é uma espécie de materialismo, quer dizer, é um apego à impressão imediata. Se você pensava na escala de imortalidade da alma, será que a sua alma imortal tem a mesma opinião que você tem agora? Não, as suas opiniões terão ido toda embora. Imagina que você tivesse acesso a um universo infinitamente mais rico do que esse e você fosse muito mais entendendo que você é. Você conservaria as mesmas opiniões ou mesmo o cacueio? Não se esquecer tudo isso e iria continuar sendo você mesmo, porque você não era nada disso. Você era uma força de criar-se a si mesmo. Nisso que é o Conselho humana? O Conselho humana se cria a si mesmo, à medida que ela se amolda as formas da verdade. Isso é tudo que nós somos. Você pode comparar, dizer, um foco de luz, um pequeno foco de luz. Isso não tem uma forma, um formato, por assim dizer. Ela tem uma forma, claro, no sentido inteligível da coisa. Então, deixa o mais estranho ainda e é a liberdade humana. Você tem a liberdade por causa disso. Por que você é capaz de ser refazer? Você não teria liberdade alguma, você não teria que se repetir infinamente. Se você não tem nem a liberdade de mudar de opinião, como é que vai falar em liberdade humana? Mas que coisa? Não somos atólios de situações tão conjunturais, de tantas circunstâncias, de tantas coisas fortuitas e aquilo que de alguma forma vai se impregnar no seu ser eterno. Não seria isso? Porque de alguma forma a nossa existência, a consciência que fica fazendo a recorte? Não é isso? Você não vai se impregnar no seu ser eterno? Nada? Absolutamente nada. Tudo o que tinha acontecido não tem importância nenhuma. Mas não é isso que é o perdão dos pecados? Se tudo se impregnasse em você, o perdão dos pecados seria impossível. Quer dizer, você pode ser refeito, você pode mudar de forma infinitamente sem deixar de ser você mesmo. Olha assim, olha uma série de fotografias suas e que você era pequenininho, vê quantas vezes você já mudou de forma. Então, nem por isso que deixou de ser você mesmo. Não tem uma célula do seu corpo que esteja mesmo ainda. Também as suas ideias, você já mudou de ideia mil vezes sem perceber. Então isso não tem importância, só tem importância, mas é aquele núcleo da sua consciência. Isso é que é você. E esse núcleo, o que é a capacidade dele? A capacidade de se refazer, de se criar à medida que contata com o mundo da verdade. O mundo da verdade fecunda a consciência. A consciência se faz. Eu digo que ela se faz, ela não é feita pelo mundo da verdade, ela se faz porque a iniciativa é dela. Na escala religiosa, é isso que se chama a santificação e a divinização. Mas o que eu estou falando é uma coisa bem anterior a isso. O fato de você ter uma consciência, o fato de você ter um eu, não pode ser explicado por nenhum fator natural. O eu é o maior dos milagres, se você pensar bem, porque o próprio Deus se define como eu sou o eu sou. Então essa capacidade de ser eu é uma coisa divina e de algum modo isso está presente em nós. Eu não sei como, não ver me perguntar porque eu também não sei. Então é a própria inteligência divina, o próprio Logos que se refrata em milhões de reflexos. Então você ver, vamos dizer, dessas alturas do Espírito, até a miséria do meu que está totalmente preso à repetição de coisas insignificantes. Tudo isso é humanidade, humanidade tem todas as possibilidades e cada um de nós tem todas elas. E note bem que não é porque nós temos acesso a essas alturas que nós nos libertamos do outro lado. A vida inteira que estamos presos a isso, porque isso é a situação humana. No fundo era isso que Aristóteles queria dizer com animal racional. Você não pode esquecer que quando ele vai explicar o que é a razão, a razão não é só a capacidade de pensar, não é só a capacidade de fazer estilogismo, a razão é nús, é espírito. Então o animal do Tad do Espírito, mas que não deixa de ser animal porque é importante estar preso a todo aquele mundo de reflexos condicionados, da repetição etc. Então é isso que eu tenho que fazer. Qualquer que seja o caso, a semana que vem voltamos normalmente, você é minado em filosofia. Esse curso aqui mais tarde será disponibilizado para quem deseja comprar. Tem algum aluno musical que faz uma pergunta, se você poderia indicar algum autor, parece algum fotógrafo que faria na área de fotografia, o cinema, o trabalho análogo à compressão da realidade, a conversa com o Nali Pernambuco? No cinema tem muito, tá certo? Mas na fotografia pode ser que tenha, mas não me ocorre no momento, mas eu vou pensar e vou ver se descubro. Você tem em mente alguma conta de cinema agora, que é disto para você ou você não vai pensar em alguma coisa? Eu nunca pensei nos filmes sobre esse aspecto, não é? Não, eu prefiro responder, não sei, mais tarde eu penso. E o Alexandre Mileriveiro pergunta, num país com a linguagem como está, qual é o grande desafio para quem tem a fazer a diretora de edição? Bom, então o primeiro lugar, você vai ter que começar por trabalhar essa linguagem que existe, pegar esse tecido de chavões de lugares comuns e trabalhar para descobrir o que está no fundo nele e como você pode transformar uma coisa na outra. Você não adianta querer direto chegar numa linguagem mais elevada, você não vai conseguir. A gente sempre tem que trabalhar a língua que existe. Eu tenho procurado fazer isso, quer dizer, juntar, pegar desde a fala mais vulgar possível e elevá-la quando possível, depois voltamos para lá. Eu não vejo outra maneira de você trabalhar isso. Afinal de contas os seus personagens vão ter que falar mais ou menos como as pessoas falam, a não ser que os personagens fiquem totalmente inverossímiles. Mas também não tem porque você limitar o seu padrão de verossimilhança, a vulgaridade do meio. Você pode criar personagens que pareçam inverossímiles em certos meios, mas que não seram inverossímiles em si mesmo, um santo, por exemplo. Um santo, um herói, um gênio, uma coisa assim, não é verossímil pelos padrões de vulgares, mas essa inverossimilhança é apenas uma aparência perante certo público. Quer dizer, tudo isso você pode trabalhar. Você reencontrar a articulação da linguagem por trás dessa desarticulação presente, eu acho que essa é a função. Mas o segundo lugar seria documentar a verdade da experiência de ser brasileiro nesses últimos 30 ou 40 anos que a literatura não documentou de maneira alguma. A nossa literatura parou em maio de 68. Quer dizer, até hoje é só a choradeira de comunista que foi perseguido, coitadinho pela ditadura militar. É só nisso que se pensa. É só para que isso foi a última experiência brasileira. Então quer dizer, nós temos que dar voz a toda essa população brasileira que tem vivido e tem sofrido e que não está entendendo nada do que acontece, mas que são pessoas que existem e como está podem ser personagens de ficção a qualquer momento. Sim, agora tem que ler muito a literatura brasileira até os anos 60, porque ela estava num caminho muito bom. O próprio Marca Rebelo, acho que o Leiturinho despensado. O modo como ele pegou aquele linguajar carioca e trabalhou aqui, é maravilhoso. Então também, encerramos aqui o curso com o leitor, tornar-se leitor inteligente. Sabes que vem, voltamos com o Seminário de Filosofia normalmente. Até a semana que vem, muito obrigado.