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Curso Online de Filosofia

Olavo de Carvalho

Aula 173

22 de setembro de 2012

Boa noite a todos, sejam bem-vindos.

Eu queria assinalar que recebi o livro do Rodrigo Gurgel Muita retórica -- pouca literatura. Tive a grata satisfação de ver um crítico literário à moda antiga, na tradição de Álvaro Lins, Otto Maria Carpeaux, ­e outros. Nesse livro, ele empreende um esforço que há trinta anos eu acho necessário: passar uma peneira em toda a literatura brasileira do século 19 que é imposta aos pobres estudantes nas escolas secundárias, em obras como A moreninha, Inocência, Retirada da laguna, O ateneu etc., e observar tudo isso com olhos severos de quem pergunta: qual é a finalidade educativa que essas obras podem atender hoje? Eu lembro que, quando estava na escola secundária -- cinqüenta anos atrás - e me davam aqueles livros para ler, eu já ficava abismado com a absoluta futilidade daquelas coisas todas. E me perguntava: "Por que querem que eu leia isto?" Só porque é brasileiro? Não se justifica o intuito patriótico de conservar qualquer obra menor só pelo fato de ser brasileira, ele não pode predominar sobre o critério educativo porque estão lidando com crianças e pretendem formar a inteligência delas.

As considerações patrióticas devem ser adiadas porque a inteligência infantil não tem pátria. As necessidades delas são as mesmas em todo lugar do mundo, por isso pouco importa se a criança que você está educando é chinesa, brasileira ou uruguaia, pois você vai atender as necessidades fundamentais. As considerações de ordem patriótica, burocrática e estatal devem ser adiadas -- não que elas sejam totalmente desimportantes, mas não é justo você prejudicar a educação das crianças só por um motivo museológico que pretende conservar tudo -- mesmo quando se tem um valor documental e histórico devido à importância das obras para a construção da nacionalidade. Essas coisas têm importância para um historiador ou filólogo que deseje documentar a formação da literatura ou língua nacional, mas certamente não deveriam dar essas coisas para as crianças lerem porque está se deformando o gosto literário delas desde cedo, ao acostumá-las a lerem porcarias e achá-las normais. Lembro-me de ter chegado a um ponto de saturação por não aguentar mais ler aquelas coisas. Uma vez me deram Inocência ou A moreninha, li umas trinta páginas e não quis mais ler aquilo, pois era pior do que novela de rádio. Esses livros são uma besteira, eu não queria mais saber deles porque eram apenas fofocas de adolescentes. A professora foi muito compreensiva comigo porque eu disse que queria ler alguma coisa que tinha alguma importância real. Desde essa época, quando tinha quatorze ou quinze anos, já me preocupava com isso. Quando vai chegar a hora em que o critério do valor estético ou ao menos do valor pedagógico vai predominar sobre essas considerações nacionalistas? Um dia alguém tinha de fazer isso e finalmente, no ano de 2012, alguém o fez: Rodrigo Gurgel. Essa leitura é indispensável para todos vocês. É para terem uma ideia do malefício que se tem feito às crianças ao impingir essa subliteratura na educação delas. Rodrigo Gurgel escreve muito bem porque domina os instrumentos da crítica literária. Depois de uma longa noite, onde se tinha apenas, por um lado, resenhistas -- como aqueles que fazem uma notinha de dez linhas na Veja ou na Isto É -- e por outro lado, os professores universitários com os estudos desconstrucionistas sem haver nada de importante no meio. Então, finalmente, a tradição da crítica literária é retomada brilhantemente pelo Rodrigo Gurgel.

O assunto desta aula tem muito a ver com isso porque eu estava preparando uma espécie de introdução a uma nova edição ou ao Imbecil Coletivo ou a uma antologia que o Felipe Moura Brasil acaba de organizar dos meus textos. Rememorando a época do Imbecil Coletivo e observando o que deveria ser atualizado em matéria de crítica cultural brasileira, eu fazia uma observação que, acredito, é de extrema importância para vocês. Eu vou ler uma parte e comentar, com a ressalva de que o faço com partes de um texto de 1999 que já tinha algo a ver com este assunto, que está publicado no meu site com o nome de "A lógica da mistificação e o chicote da tiazinha". No fundo, é o mesmo problema, mas colocado em duas fases diferentes de seu desenvolvimento histórico.

Quando entre os anos 1980 e 1990 comecei a redigir as notas que viriam a compor O Imbecil Coletivo, os personagens a que ali eu me referia eram indivíduos inteligentes, razoavelmente cultos, apenas corrompidos pela auto-intoxicação ideológica e por um corporativismo de partido que, alçando-os a posições muito superiores aos seus méritos, deformavam completamente sua visão do universo e de si mesmos. Foi por isso que os defini como "um grupo de pessoas de inteligência normal ou mesmo superior que se reúnem com a finalidade de imbecilizar-se umas às outras". Essa definição já não se aplica aos novos tagarelas e opinadores, que atuam, sobretudo através da internete que hoje estão entre os vinte e os quarenta anos de idade. Tal como seus antecessores, são pessoas de inteligência normal ou superior separadas do pleno uso de seus dons pela intervenção de forças sociais e culturais. A diferença é que essas forças os atacaram numa idade mais tenra e já não são bem as mesmas que lesaram os seus antecessores.

Até os anos 70, os brasileiros recebiam no primário e no ginásio uma educação normal, deficiente o quanto fosse. Só vinham a corromperem-se quando chegavam à universidade e, em vez de uma abertura efetiva para o mundo da alta cultura, recebiam doses maciças de doutrinação comunista, oferecida sob o pretexto, àquela altura bastante verossímil, da luta pela restauração das liberdades democráticas. A pressão do ambiente, a imposição do vocabulário e o controle altamente seletivo dos temas e da bibliografia faziam com que a aquisição do status de brasileiro culto se identificasse, na mente de cada estudante, com a absorção do estilo esquerdista de pensar, de sentir e de ser -- na verdade, nada mais que um conjunto de cacoetes mentais.

O trabalho dos professores-doutrinadores era complementado pela grande mídia, que, então já amplamente dominada por ativistas e simpatizantes de esquerda, envolvia os intelectuais e artistas de sua preferência ideológica numa aura de prestígio sublime, ao mesmo tempo em que jogava na lata de lixo do esquecimento os escritores e pensadores considerados inconvenientes, exceto quando podia explorá-los como exceções que por sua própria raridade e exotismo confirmavam a regra. Criada e mantida pelas universidades, pelo movimento editorial e pela mídia impressa, a atmosfera de imbecilização ideológica era, por assim dizer, um produto de luxo, só acessível às classes média e alta, deixando intacta a massa popular.

A partir dos anos 80, a elite esquerdista tomou posse da educação pública, aí introduzindo o sistema de alfabetização "socioconstrutivista", concebido por pedagogos esquerdistas como Emilia Ferrero, Lev Vigotsky e Paulo Freire, para implantar na mente infantil as estruturas cognitivas aptas a preparar o desenvolvimento mais ou menos espontâneo de uma cosmovisão socialista, praticamente sem necessidade de "doutrinação" explícita. Do ponto de vista do aprendizado, do rendimento escolar dos alunos e, sobretudo, da alfabetização, os resultados foram catastróficos.

Não há espaço aqui para explicar a coisa toda, mas, em resumidas contas, é o seguinte. Todo idioma compõe-se de uma parte mais ou menos fechada, estável e mecânica -- o alfabeto, a ortografia, a lista de fonemas e suas combinações, as regras básicas da morfologia e da sintaxe -- e de uma parte aberta, movente e fluida: o universo inteiro dos significados, dos valores, das nuances e das intenções de discurso.

A primeira aprende-se eminentemente por memorização e exercícios repetitivos. A segunda, pelo auto-enriquecimento intelectual permanente, pelo acesso aos bens de alta cultura, pelo uso da inteligência comparativa, crítica e analítica e, last not least, pelo exercício das habilidades pessoais de comunicação e expressão. Sem o domínio adequado da primeira parte, é impossível orientar-se na segunda. Seria como saltar e dançar antes de ter aprendido a andar. É exatamente essa inversão que o socioconstrutivismo impõe aos alunos, pretendendo que participem ativamente -- e até criativamente -- do "universo da cultura" antes de ter os instrumentos de base necessários à articulação verbal de seus pensamentos, percepções e estados interiores.

O socioconstrutivismo mistura a alfabetização com a aquisição de conteúdos, com a socialização e até com o exercício da reflexão crítica, tornando o processo enormemente complicado e, no caminho, negligenciando a aquisição das habilidades fonético-silábicas elementares  sem as quais ninguém pode chegar a um domínio suficiente da linguagem. O produto dessa monstruosidade pedagógica são estudantes que chegam ao mestrado e ao doutorado sem conhecimentos mínimos de ortografia e com uma reduzida capacidade de articular experiência e linguagem.

Isto criou uma diferença brutal entre aquela camada de intelectuais que eu descrevi nos vários volumes de O Imbecil Coletivo -- os dois volumes publicados e os volumes por publicar -- e a situação atual. Naquela época o fenômeno do Imbecil Coletivo abrangia eminentemente ativistas e simpatizantes de esquerda porque era um fenômeno criado tardiamente e só imposto as pessoas na universidade e, às vezes, só no último ano do ensino secundário. Era uma influência que só naquela época se podia denominar corretamente doutrinação, porque se tratava de transmitir uma doutrina e uma teoria, uma visão de mundo mais ou menos articulada e sistemática, capaz de ser objeto de discussão. As pessoas tinham consciência de quais eram as ideias que estavam absorvendo. Não havia muito espaço para discutir aquelas coisas, mas pelo menos havia a possibilidade da discussão interna entre pessoas que mais ou menos concordavam no essencial, como por exemplo, você tinha as várias facções de esquerda, PC do B, AP etc., e eles discutiam entre si. Mostravam algum domínio, ao menos elementar, dos elementos doutrinais do marxismo-leninismo. Tratava-se, então, de passar uma doutrina chamada marxismo-leninismo ou marxismo-trotskismo de modo que seria bastante exato usar o termo doutrinação para descrever o que acontecia nessa época. A transmissão de uma doutrina pressupõe que você está se dirigindo a pessoas que sabem falar, ler e escrever, e que já tem a maturidade para adquirir algumas concepções sobre a sociedade, a história, o ser humano etc.

O que veio em seguida não tem nada a ver com doutrinação, embora os críticos amadores continuem ainda a falar contra a doutrinação esquerdista nas escolas. Eu asseguro a vocês que não há mais doutrinação alguma porque nem é necessário nem possível haver doutrinação nas condições atuais. Mesmo as condições básicas para uma doutrinação já foram suprimidas desde a educação infantil. Um idioma qualquer não se compõe de palavras, de unidades de significado, mas eminentemente de fonemas: uma coleção de sons muito simples. Por um lado, você pode decompô-los para representá-los mediante letras, e por outro, você pode juntá-los para criar unidades de sentido. O que são os sistemas de conjugação de um verbo? O verbo tem a mesma raiz e, mudando apenas um fonema, você consegue ali criar todo um sistema de representações de tempos diferentes, várias dimensões do passado, vários sentidos do presente, várias possibilidades de futuro; você consegue também articular falante e ouvinte com os papéis que estão sendo representados na comunicação etc., tudo isso mudando apenas um fonema. Vejam a importância dos fonemas. Mesmo em línguas onde os fonemas permanecem separados -- e onde eles se aglutinam como o chinês -- elas também são compostas de fonemas. Você pode tomar como exemplos extremos a língua alemã, onde se juntam quinze fonemas e se faz uma palavra enorme; e a língua chinesa onde os fonemas permanecem separados, mas se aglutinam formando unidades de sentido cada vez maiores sem se fundirem materialmente e permanecem separados e se fundem como unidades de significado. O aprendizado desses fonemas não tem absolutamente nada a ver com o aprendizado das unidades de sentido que os fonemas formarão quando forem juntados. Saber pronunciar um fonema não tem nada a ver com saber o significado das palavras quando esse fonema se juntar com outros. Você pode ter, por exemplo, "an - te - na", que forma a palavra "antena". Esse "ante" pode ser juntado com outros fonemas e formar, por exemplo, antediluviano, antepor etc. O que tem antena a ver com isso? O "ante" é o mesmo, ou seja, os fonemas são os mesmos, mas ao se juntarem formam unidades de significado que são absolutamente inconexas. Deste modo, é preciso entender que o aprendizado dos fonemas não tem absolutamente nada a ver com o significado, mesmo em chinês onde cada fonema tem um significado. Um fonema em chinês pode ter vários significados conforme os outros fonemas que você junte com ele na frase. Isso significa que a aquisição dos fonemas é uma habilidade auditiva e vocal que tem de ser aprendida de maneira totalmente separada e distinta do aprendizado das unidades de sentido. É uma habilidade física que apela apenas aos seus recursos auditivos e vocais com a sua memória. Não há nada a acrescentar.

No aprendizado das letras, do mesmo modo, você decompõe o fonema para poder representá-lo graficamente. Representar não apenas os fonemas, mas também as unidades de sentido que eles formam depois. O aprendizado do alfabeto é radicalmente separado do aprendizado das unidades de sentido. Para você aprender a letra "a", não precisa saber nenhuma palavra que será formada com a letra "a". Isso se refere mesmo ao significado que esse fonema possa adquirir na linguagem. Por exemplo, o "a" artigo e o "a" preposição. Para aprender a pronunciar "a" e distinguir esse som de outro, distinguindo o grafismo "a" de outro grafismo, você não precisa saber absolutamente que o "a" pode ser artigo ou preposição. Toda essa parte da língua só pode ser aprendida por memorização e por exercício mnemônico. Se nesta fase do aprendizado você entra com o problema dos elementos de sentido, o aprendizado se complica enormemente. É como se, para aprender um fonema, você precisasse saber algo de todas as palavras que podem usar esse fonema. Ademais, há o seguinte problema: as letras são sempre as mesmas e os fonemas da língua são sempre os mesmos -- é uma coleção fixa como notas no piano. Para você aprender as sete notas no piano e aprender a distinguir as teclas, não precisa conhecer nenhuma música composta com essas notas: você precisa saber quais são as notas para entender a música. Existe uma parte do aprendizado que é puramente mnemônico e repetitivo.

O aprendizado das regras básicas da morfologia e da sintaxe, embora já aborde um pouco a questão do sentido, também tem de ser reservado para a memória e a repetição. Para você aprender as regras da gramática, não é preciso saber como justificá-las. Toda regra da gramática tem uma história por trás dela, mas se você não domina a regra você não consegue ler. Como você vai ler a história do idioma antes de você saber o idioma? Isso é o mesmo que, antes de eu aprender o alfabeto e os fonemas da língua húngara, eu queira ler em húngaro a história desta língua. No entanto, o socioconstrutivismo parte do princípio de que a língua é um produto cultural e de que aprender a língua é você apreender os conteúdos da cultura. Já entra com essa consideração de todos os elementos de sentido na fase de aprendizado do alfabeto, dos fonemas e das regras gramaticais. Resultado: as pessoas nunca aprendem. Dante já dizia que a gramática é a construção material do idioma, portanto ela se compõe de sons e grafismos combinados. Mesmo os significados das palavras fossem completamente outros, os sons e grafismos seriam os mesmos. Você pode com as mesmas notas compor melodias altamente formalizadas, como por exemplo, uma composição de Joseph Haydn ou de Mozart -- ou você pode compor um caos como Igor Stravinski. As notas não dependem do que você vai fazer com elas mais tarde do mesmo modo que os fonemas e letras não têm nada a ver com as unidades de sentido e com a combinação de várias unidades de sentido para formar frases, períodos, parágrafos, páginas, capítulos e livros. É verdade que a língua é um produto cultural ou histórico, porém, você tem de aprender a parte material do idioma e depois através da contínua aquisição de novos elementos culturais você vai se enriquecendo até um ponto onde você pode retroagir sobre a própria língua que aprendeu e meditar sobre a história dela e sobre o fundamento ou falta de fundamento das várias regras gramaticais até se tornar um gramático para discutir o que os outros dizem a respeito -- e não antes de você ter o domínio material da coisa. Assim como um sujeito pode aprender música não concordando com nada com o que os músicos da sua geração estão compondo e fazer algo completamente diferente. Por exemplo, quando Richard Wagner decidiu compor ópera de maneira totalmente diferente daquilo que predominava na sua época e estourou com todos os padrões clássicos da ópera italiana fazendo uma coisa completamente diferente -- e para isso ele teve de aprender as mesmas notas e teclas que os italianos aprendiam. Se ele se recusasse a fazer isso e fosse crítico da música vigente antes de aprender música, estaria na mesma condição minha de querer julgar a filologia da língua húngara sem saber a língua húngara. Eu não sou muito bom para aprender línguas -- não sou como o Bruno Tolentino que ficava quinze dias num país e saia falando a língua. Eu preciso de bastante tempo para aprender e posso captar facilmente as estruturas gramaticais da língua -- apesar de que para adquirir vocabulário levo muito tempo. E eu já olhei uma gramática da língua húngara e fiquei desesperado devido à dificuldade. Eu levaria uns dois anos de esforço e não valeria a pena. Aprendi um bocado de árabe clássico, mas este comparado com o húngaro é como se fosse geometria porque tudo é maravilhosamente organizado de forma que até um imbecil aprende. Você aprende a gramática árabe em um dia. Ainda mais: em árabe, sabendo uma raiz, você pode formar umas quarenta palavras, por isso é uma língua que dá gosto de estudar. Existem outras que não dá. Esses elementos materiais que são a base do idioma têm de ser aprendidos antes que você se meta a manipular o sentido, ainda que nesse aprendizado você tenha de saltar muitas questões de sentido que podem aparecer no curso do próprio aprendizado -- mas que não podem ser respondidas antes de você ter aprendido as regras. Se o sujeito pergunta "por que é assim e não assado?" Para você colocar esta questão, você já precisa ter certo domínio da língua. Então, você vai ter de aceitar uma série de regras que talvez nem façam sentido para a sua lógica, mas das quais você precisa até para formular retroativamente a sua dúvida. Acontece que o socioconstrutivismo pretende que as crianças participem do universo da cultura escrita antes de saber escrever. As crianças têm de desenvolver uma espécie de consciência antropológica antes de saber o bê-á-bá. É claro que isto é impossível porque nunca funcionou e nunca vai funcionar. Se os camaradas fizeram isso com a ideia de desenvolver uma consciência socialista nos alunos, ora, eles também erraram porque nem dá para criar uma consciência socialista baseada nisto. Não dá para criar coisa alguma porque se você não tem uma noção da articulação material dos elementos que compõem a língua, como você vai chegar a articular elementos de sentido que são muito mais abstratos e, que pior, são móveis e fluidos? Existe um sentido dicionarizado que não abrange todas as possibilidades de uso daquela palavra porque isto muda conforme a situação, a intenção do falante -- que você tem de mais ou menos adivinhar. Todo elemento do significado é a parte móvel e fluida do idioma que é muito mais difícil de manipular do que a primeira. O socioconstrutivismo pretende que o garoto se oriente no universo dos sentidos antes de saber sequer articular os elementos materiais da língua. Todo mundo no Brasil que está entre quinze e quarenta anos aprendeu a ler assim, ou seja, não aprendeu a ler. Digo isso não para criticar os outros, mas para que cada um de vocês examine as consequências que isso possa ter na sua formação. Com isso, entramos em outro problema que eu já analisava nesse texto de 1999. O que eu falava na época sobre linguagem formal e informal inspirado no Eugen Rosenstock-Huessy tem algo a ver com o fenômeno de uma espécie de uma segunda linguagem informal que pode ser usada para introduzir confusão na cabeça das pessoas.

É um processo mais ou menos consciente que muitos autores usavam para impingir ao seu público toda sorte de mentiras, falsidades travestidas de uma aparência de linguagem formal muito lógica. Só que isso na época era feito, e eu dou os exemplos do psiquiatra Joel Guirmann e outro da Marilena Chauí. Nesses casos, essa segunda linguagem informal foi usada premeditadamente, propositadamente para criar confusão. As pessoas que aprenderam através do método sócio construtivista só conhecem essa segunda linguagem informal. Isto é, conhecem a linguagem informal que é linguagem de criança, gíria, etc., e conhecem a segunda linguagem informal, que é a linguagem da confusão, mas não têm verdadeira linguagem articulada. Isto não se dá porque elas queiram enganar os outros, mas porque elas não sabem como fazer de outra maneira. Cada um de vocês é vítima disso, uns mais, outros menos e, pior, nenhuma quantidade de cultura superior que você adquira poderá curar isso. Comparando, é como se um indivíduo que aprendeu primeiro a andar de bicicleta antes de aprender a andar com os pés. Não adiantará nada depois aprender a andar de automóvel, de avião, melhorar a qualidade do veículo que ele está usando, pois isso que não vai ajudá-lo a aprender a andar com os próprios pés.

Só há uma maneira: voltar ao começo e aprender o que você não aprendeu. Você tem que aprender os fonemas, a divisão de sílabas, a ortografia. E tudo isso é pura "decoreba". Sim, é. Hoje, veja, um dos poucos países no mundo que ignora o sistema sócio-construtivista é a China. Eles ensinam pelo velho sistema fonético-silábico e pela "decoreba". Resultado: os alunos chineses tiram as melhores notas em todos os testes internacionais. Na sua própria língua e línguas estrangeiras. Na França, recentemente, o método construtivista foi abandonado, eles voltaram ao método silábico depois de a coisa chegar a um estado totalmente catastrófico. Mas, no Brasil, tocar no sócio-construtivismo é matar a vaca sagrada. Por quê? Eu vi quando começou essa coisa no Brasil e o grande instrumento disseminador dessa coisa no Brasil foram duas revistas da fundação Victor Civita, da Editora Abril. Uma chamava "Escola" e a outra chamava "Sala de Aula". Eu trabalhei nas duas, vi o começo de tudo. Isso foi há mais de trinta anos. Na época percebia que aquilo seria desastroso, pensava "esse negócio está todo errado", mas eu não tinha estudado ainda o suficiente para analisar a fundo e quando eu estive mais equipado para lidar com o assunto a coisa já estava mais disseminada, mas mesmo em 1999, eu ainda não tinha percebido que o processo de deformação das mentes já tinha alcançado uma faixa mais profunda. Eu ainda estava na fase de estudar doutrinação. Evidente que Joel Birmann e Marilena Chauí eram doutrinadores e eu ainda não tinha percebido. Ora! Na geração seguinte não seria mais necessário doutrinar as pessoas, elas só vão conseguir pensar nessa base. Por quê? Note bem, não é na base esquerdista, não estou falando de ideologia aqui. Elas só conseguem pensar pelo método da síntese elíptica que salta sobre os elementos articuladores da linguagem e obscurece totalmente as relações reais de discurso; a posição do falante, a posição do ouvinte. Não se consegue, de maneira alguma, articular conteúdo do discurso com situação do discurso.

É evidente que pessoas assim só conseguiram raciocinar de acordo com modelos prontos que receberem na faculdade, não são capazes de elaborar as coisas por si mesmas. O máximo que vão conseguir é repetir os mesmo esquemas verbais que aprenderam a ler, não conseguem sair disso. O negócio chega a ser totalmente catastrófico num sentido muito mais profundo do que era em 1999 ou no princípio dos anos 90. Eu vou reler aqui uns pedaços desse trecho de 1999 e mostrar para vocês a diferença. Estou fazendo isso para que vocês tomem consciência da sua própria deficiência, a gente vê pelas cartas, por mensagens no Facebook, nos e-mails respondidos. Não conheço um brasileiro, a não ser dois ou três, profissionais da coisa, que saibam ortografia, por exemplo, que saiba dividir sílabas. E estou falando dos melhores! Os alunos mais inteligentes, ainda assim, não têm o senso da ortografia, não têm o senso da estrutura material do idioma e, portanto, não têm o senso real das articulações de sentido. A gente, muitas vezes, tem que adivinhar o que eles estão querendo dizer e, frequentemente, o que eles estão querendo dizer é uma coisa bastante inteligente, mas ela não está sendo dita, ela só pode ser lida por profissionais, eu sou um profissional disso, estou corrigindo textos desde os dezessete anos de idade. Durante anos eu ficava sentado numa mesa de um jornal tentando adivinhar o quê o repórter tinha querido dizer para, daí, eu dizer em nome dele.

Olavo: Eugen Rosenstock-Huessy observava em "Carta Magna Latina" (1974), que se você disse "ih!" e o seu interlocutor repete o mesmo som, vocês estão se comunicando como animaizinhos, imersos no mesmo estado anímico comum. Mas se você diz "escute" e ele responde "estou escutando" então vocês entraram no mundo da comunicação humana, graças ao milagre da linguagem articulada. Na linguagem articulada, os papéis do falante e do ouvinte estão perfeitamente diferenciados. O Falante responsável comunica uma mensagem respondível a um ouvinte respondente. É só a partir desse nível de comunicação que os seres humanos podem narrar e perpetuar, prometer e cumprir, planejar e realizar, concordar e colaborar erguer, enfim, sobre a base da natureza a ordem da história. A linguagem articulada dá ao homem a possibilidade de conceber o futuro, com base nas experiências dos ancestrais e abre para os indivíduas a existência num plano temporal superior a sua duração biológica num espaço mais vasto que o da sua ação física.

Basta isso para você perceber a diferença imensurável de ser humano e qualquer outro animal. O animal não pode fazer planos para daqui a dez anos: "Ah! Quando eu morrer vai ser assim ou assim". Ou então: "Eu lego meus bens para fulano de tal.". É absolutamente impossível. Assim como ele não pode contar a história da sua espécie. Isso quer dizer que toda essa dimensão de tempo é inacessível ao animal. Este, por assim dizer, vive na instantaneidade, numa faixa de tempo que está relacionada com sua memória presente apenas, mas nós somos capazes de situar a nossa ação dentro de uma sequência temporal que vem desde o começo das eras e prolonga-se até não sei quando.

Olavo: originada nos ritos e nos cantos épicos, a linguagem articulada encontra sua plena expressão na linguagem formal; o idioma das leis, das filosofias, das ciências, dos debates públicos. Onde a máxima clareza nas atribuições das responsabilidades, terminar por libertar os indivíduos de seu isolamento e lhes dá a possibilidade de tomar parte consciente na vida histórica da sociedade inteira. Na sociedade organizada, porém, quando a linguagem formal já cumpriu os seus fins, os seres humanos pode vir a se esquecer de quanto ela é necessária para instaurar o mundo histórico, de cujos frutos maduros eles se beneficiam. Então se dissemina uma forma mais relaxada de comunicação: a fala informal. Uma linguagem cheia de elipses, de hiatos de subentendidos, com a qual o indivíduo só pode comunicar-se com os seus próximos, não com a sociedade maior, com a sociedade política. Senão regride à comunicação inarticulada, a linguagem informal dissolve a malha de distinções entre sujeito e objeto; falante e ouvinte; criando um agradável sentimento de intimidade cúmplice na mesma medida que nebuliza a distribuição de papéis e obscurece a atribuição de responsabilidades. Um dos traços fundamentais da comunicação informal é o seu caráter elíptico. O falante, saltando sobre os nexos lógicos e intermediários, vai de uma ideia a outra, sem ter que conservar a memória do trajeto e sem ter que responder pela confiabilidade das vias por onde conduz o ouvinte. E este, envolvido numa atmosfera de identificação emocional confusa, se deixa levar como se fosse ele próprio o falante. A comunicação informal ou pós-articulada tem as delícias da convivência espontânea e natural, mas, por isso mesmo, devolve ao homem a impotência do animalzinho no mundo natural, destituídos dos meios de ação próprios ao mundo histórico. Se a comunicação informal dominasse todos os setores da atividade humana, a sociedade se veria paralisada pela impotência diante de um caos inabarcável. O medo difuso tomaria conta de tudo e nenhuma ação eficiente seria possível, por isto mesmo, a comunicação informal fica geralmente restrita às famílias, aos pequenos grupos, ou, na mais ambiciosa das hipóteses, ao mundo das diversões, ao passo que a linguagem formal continua imperando nas altas esferas do poder, nas ciências, nos debates parlamentares, nos tribunais.

É esse o ponto onde quero chegar. A linguagem informal já invadiu todos esses setores. Invadiu até mesmo a redação das leis. Você tem hoje leis redigidas com figuras de linguagem, que podem querer dizer qualquer coisa e você pode interpretá-las em um sentido ou no sentido contrário! Ou seja: a interpretação das leis tornou-se um exercício de interpretação poética. E isso, evidentemente, cria essa situação de desorientação e de medo onde ninguém sabe exatamente a que se ater porque ninguém sabe exatamente o que é o permitido e o que é o proibido. Hoje, os legisladores se permitem inclusive fazer leis que se contradizem umas às outras e ninguém percebe a contradição. Por exemplo, o então governador de São Paulo Geraldo Alckmin baixou uma lei que determina uma multa para o padre, rabino ou o chefe de um templo qualquer que expulse um travesti que entrar na igreja. Acontece que existe lei no Código Penal que é referente ao ultraje a culto. O sujeito que entra ali, daquela maneira está, evidentemente, ferido a sensibilidade dos presentes, dos fiéis, e o padre ou rabino ao colocá-lo para fora está ferindo a sensibilidade dele e as duas coisas são proibidas. Uma lei contradiz a outra e a outra contradiz a uma e as duas estão em vigor ao mesmo tempo! Pior! Levantar publicamente essa questão já é considerado inconveniente. Veja a que ponto a linguagem informal invadiu todos os domínios das altas esferas. Hoje, praticamente, todas as questões públicas são discutidas nessa base. O que aconteceu? As pessoas foram educadas pelo método sócio construtivista e não sabem sequer articular os sons e grafismos quanto mais as unidades de sentido.

O pior vem em seguida. Prossegue o texto

Assim como a linguagem informal é a condição para a intimidade entre os amigos e os familiares, a linguagem formal é a condição da ordem, da justiça e da liberdade na sociedade política. Quando a linguagem informal invade os domínios superiores da sociedade política isso indica que aí o senso das responsabilidades vai desaparecendo, que a liderança procura fugir de toda cobrança ocultando-se numa forma de comunicação elíptica, onde aquele que ouve é induzido sub-repticiamente a endossar decisões que nem tomou nem compreendeu. Onde espectadores inocentes, acabam carregando sobre suas costas a culpa por erros que não cometeram e onde, portanto, um sentimento de injustiça generalizada acaba por minar toda a confiança na possibilidade de uma ordem justa, uma situação oprimente que todos agravam ainda mais buscando alívio na busca obsessiva de bodes expiatórios. O clamor geral contra a impunidade é tão destrutivo quanto a impunidade mesma.

É uma situação alarmante, sem dúvida, e é inequivocamente a situação brasileira. Poderíamos ir buscar isso em 1999. O texto diz ainda:

Poderíamos busca isso na progressiva delapidação do idioma na revolta frívola de beletristas contra as normas gramaticais

Era o que na época estava em discussão. Havia quem dizia que, o ensino da mesma gramática para todas as pessoas, é antidemocrático. Já se mostrava aí um problema grave de articular o que se está querendo dizer, porque é evidente que, se a gramática é uma só e ela é determinada por lei e ensinada para todo mundo, trata-se de uma imposição. Então as criancinhas não foram consultadas a respeito. Porém é fato, mais ainda, que se você procriar uma gramática diferente para cada grupo, para cada classe social, você estratificou a sociedade e impediu a comunicação de todos no âmbito da sociedade política. Portanto, você criou uma hierarquia social absolutamente intransponível. Quer dizer, se o sujeito nasceu na favela, só fala com a linguagem da favela, outro nasceu no mato, numa fazenda só fala a linguagem da fazenda eles não vão poder se comunicar, se não há uma linguagem formal para todos, acabou a possibilidade mesma de um debate democrático. Simplesmente não existe.

Quando um indivíduo diz que uma gramática para todos não é democrática ele quer dizer que não é uma coisa que foi decidida desde baixo, mas que foi imposta desde cima. Mas a ideia de que tudo que é imposto desde cima é antidemocrático se opõe à idéia de que cada grupo, ou família ou classe social tenha uma gramática para ele próprio. Por exemplo, uma constituição democrática também é imposta desde cima. Ela não está em discussão o tempo toda, uma vez aceita ela tem que ser imposta a todos. Isso quer dizer que o indivíduo considera que a ideia mesma de autoridade é antidemocrática, mas se não há uma autoridade central que impõe uma mesma leia a todos então passa a vigorar a lei da força, o grupo mais forte se sobrepõe ao grupo mais fraco. Nesse caso, acabou a democracia. O que ele quis dizer com democracia? Não há um conceito de democracia no que eles estão dizendo. Há uma vaga impressão emocional. Onde se misturam as coisas mais disparatadas e para expressar isso ele usa um termo técnico da filosofia política que é "democracia".

Isto já estava assim naquela época. Continua o texto:

As esferas superiores da decisão humana não podem ser invadidas pela comunicação informal em estado puro. As gírias, os erros de gramáticas os hiatos lógicos mais clamorosos não poderiam sem mais entrar nesses domínios, pois seriam identificados e denunciados a primeira vista, para que a informalidade com todo o seu cortejo de confusões desnorteantes e nebulosidades dissolventes tome de assalto o comando da sociedade e instaure irresponsabilidade generalizada, ela primeiro precisa se paramentar de certos adornos que a façam passar por uma linguagem aceitável nos círculos de gente importante. Ela tem que tomar a forma de uma falsa linguagem formal.

Criar uma falsa linguagem formal é relativamente simples. Em toda sociedade, há vários dialetos profissionais e grupais que se distinguem por um vocabulário próprio e por seu alto grau de formalização. A linguagem científica é um exemplo. Cada ciência tem não somente sua terminologia apropriada, mas também um conjunto de esquemas expositivos mais ou menos padronizados, o vocabulário facilita o reconhecimento automático dos significados, fora de toda nebulosidade subjetiva e os esquemas padronizados de argumentação e prova permitem a rápida aferição dos pressupostos, dos nexos intermediários dos raciocínios, enfim, de todos os requisitos para uma avaliação correta da veracidade ou falsidade das alegações.

Para construir uma falsa linguagem formal basta tomar o vocabulário padronizado de uma determinada área de estudos, mas usá-lo em sentenças construídas à moda informal com muitas elipses, hiatos e subentendidos, aproveitando para inserir nesse intervalo todas as opiniões pessoais ou grupais que o autor, por malicia, deseje conferir o prestígio de crenças universalmente admitidas.

Note que aqui eu estava falando da falsa linguagem formal como instrumento que certas pessoas usaram para enganar os outros. Essa falsa linguagem formal é a única que existe hoje. E não é que as pessoas estejam usando isso para enganar aos outros. Não. Elas enganam-se a si mesmas o tempo todo. Todo mundo hoje pensa assim. Eu tomo como exemplo esses escritos do Júlio Lemos e do Adriano Correia. Algum vocabulário científico eles dominam, mas o pensamento deles é composto de coisas tão incongruentes com a situação de discurso que a gente não sabe realmente quem está falando. Fiquei muito impressionado quando eu cobrei do Adriano Correia certas frases arrogantes que ele tinha dito a respeito de mim e mais adiante ele disse: "Não, eu não fui arrogante de maneira alguma!". É uma sequência de comentários a um artigo do Júlio Lemos. Ele escreveu: "Lá, no quinto comentário, respondendo ao Rafael Falcom eu reconheci que sou apenas um principiante, que eu não sou um filólogo profissional, que ainda tenho que fazer cinco anos de curso de filologia." Como é que, um parágrafo que você escreveu no quinto comentário, para outra pessoa, pode, retroativamente, modificar o tom de um parágrafo que você escreveu para mim lá atrás? Isso não é possível! Mas como é que o sujeito não percebe isso? Não percebe por causa disso. Foi educado no sócio construtivismo, não pode articular uma parte do texto dele com a outra parte porque ele não pode articular sequer os fonemas para articular uma divisão silábica correta. Se você observar os textos desde estão cheios de erros de ortografia, de gramática, às vezes não tão gritantes assim, mas estão lá. E, sobretudo, os dois estavam fazendo uma apologia do rigor filológico. Quando você cita uma frase de um autor clássico, é preciso citá-la corretamente e na tradução você tem que levar em conta toda a tradição de estudos filológicos a respeito. É claro que se tem que fazer isso, só que se você tem que fazê-lo nos estudos de filosofia antiga, que são altamente complexos, muito mais é necessário fazê-lo quando se está lidando com dados imediatos de uma situação que é acessível a você e com textos que não foram escritos numa língua morta, mas escritos na sua própria língua. Evidentemente, eles não sabem fazer isso. Quando estão lidando com um texto que está publicado, está na sua frente, eles saltam de um ponto a outro sem perceber a conexão muito bem. Mas se eles não são capazes de fazer isso nem na sua própria língua com materiais tão simples, como eles poderiam fazê-lo com uma língua extinta? Eu digo: é fácil! Porque os elementos filológicos daquela língua extinta podem ser adquiridos por mera leitura e estudo. Está tudo pronto, por assim dizer, e tudo formalizado. Isso não requer o trato direto com o idioma vivo.

Por incrível que pareça, as habilidades pretensamente superiores que vão ser adquiridas no estudo universitário são mais fáceis de adquirir do que aquelas do manejo simples e direto do idioma que você está falando. Então surge esse fenômeno extraordinário. O Júlio Lemos fez um estudo filológico de uma determinada palavra, latim, de textos legais do século XIII, XIV. Isso ele é capaz de fazer. Mas ele seria capaz de fazer correta e elegantemente no seu idioma? Não, não é. Um homem que, quando tenta fazer uma figura de linguagem usa "A Cigarra e a Formiga", só faltou utilizar o popular "Batatinha Quando Nasce". O filólogo é um sujeito que tem um domínio do idioma em dois andares. Ele tem o domínio efetivo do manejo do idioma e ele tem a consciência crítica da formação, da gramática e dos significados acumulados ao longo dos tempos. Agora, se ele não tem a primeira coisa não pode ter a segunda. Ou seja, um filólogo que é mau escritor? Isso é um absurdo! Isso não pode existir, mas no Brasil existe e é obrigatório porque o indivíduo não adquiriu o aprendizado da linguagem formal, mas já lhe substituiu uma falsa linguagem formal que aprendeu na Universidade. Então, vai continuar escrevendo mal para sempre. E quanto mais estudar, pior vai escrever.

Isso acontece apenas com Adriano Correia e Júlio Lemos? Claro que não! Acontece com muitos aqui. Vocês sabem que acontece! Aí não tem outro jeito. Você pode ler Platão por inteiro, pode ler Shakespeare, pode decorar Camões, isso não vai ser consertado. Porque se trata de uma habilidade física que ficou faltando. O aprendizado das letras, os fonemas, etc., são habilidades infantis e, se elas lhe faltaram, você está deficiente para sempre. Aqueles que sentem, que percebem e tomem consciência disso, voltem atrás. Eu, felizmente, fiquei livre disso porque aprendi a ler pelo método antigo. Aprendi aritmética decorando tabuada e toda essa parte elementar, puramente mnemônica, puramente mecânica é de utilidade para o resto da sua vida. Seria como aprender desenho. Um desenho se compõe do quê? De figuras? Não, um desenho se compõe de pontos e traços e você tem que fazer um por um. Como é que você vai aprender desenho? Olhando vagamente uma figura e tentar reproduzir? Não, você vai ter que fazer cada traço. É um negócio puramente mecânico. Mas a verdade é assim. Eu sei que na época em que eu estudava as pessoas falavam muito mal da "decoreba". Ah, é? Os chineses estão dando de dez a zero em todo mundo por causa da "decoreba". Quando eles passam ao aprendizado mais complexo, passam às unidades de significado, eles já dominam tudo aquilo que o Dante chamava de "Construção Material da Língua" e mais ainda, em chinês isso é mais necessário. Como é que se fazem os ideogramas chineses? "Ah, nós partimos de uma ideia". Não, são traços! E traços que têm que ser feitos de uma maneira muito mais meticulosa do que no nosso alfabeto. Eu sugiro esse retorno temporário ao aprendizado silábico fonético que vai lhes fazer muito bem, em longo prazo.

Pode parecer decepcionante, num curso de filosofia, você dizer uma coisa dessas, mas uma vez que a mente ficou mal formada nisso e o indivíduo já está discutindo questões de cultura superior e até de filosofia, sem ter essa base, não tem mais como consertá-la. Eu não posso consertar a cabeça do Júlio Lemos ou do Adriano Correia, não posso fazer isso e, tudo que eu posso fazer, às vezes, é tentar humilhá-los para ver se eles sentem o problema. Não por maldade, não é por vingança, é para dar uma chacoalhada para o indivíduo perceber o ridículo da sua situação. Porém, a percepção do ridículo, para algumas pessoas, é uma coisa pedagógica e para outras é um elementos ainda mais emburrecedor e eu não sou capaz de prever isso à distância, não tenho telepatia suficiente para saber o que está se passando na cabeça desse ou daquele.

O fato é que até os anos 70 e 80, a deformação era eminentemente ideológica, não afetava estas condições de base. Desde os anos 80, porém, a deformação já vem do primário e não é mais ideológica. Ela distribui-se uniformemente entre as pessoas, quer sejam comunistas, socialistas, democratas, liberais, conservadores, tradicionalistas: são todos assim. Isto significa que nós temos um novo modelo do imbecil coletivo: é o imbecil coletivo supra-ideológico, o imbecil coletivo democratizado.

Houve a introdução de um segundo elemento que piorou as coisas. Elemento este que está presente na vida de cada um de vocês: o uso generalizado dos computadores. As pessoas usam computador desde a escola primária. O computador coloca você imediatamente dentro de todo o universo cibernético que, não raro, é muito mais amplo que o universo da sua experiência direta. Surge então o seguinte problema cognitivo: o universo cibernético é algo que existe dentro do mundo real ou o mundo real é apenas um elemento ao qual o universo cibernético se refere? Para quem nasceu e aprendeu antes do advento dos computadores está claro que o universo cibernético é apenas mais um elemento do mundo real. Como nós sabemos disto? Porque o mundo real já existia antes do universo cibernético. A causa não pode ter vindo depois do efeito. Mas, para quem já foi colocado dentro do universo cibernético desde pequenininho, o problema do que é o fenômeno acessível diretamente, o que é um epifenômeno, o que é uma aparência construída em cima dele, pode se tornar absolutamente insolúvel.

Ademais, a internet lhe dá uma facilidade de acesso a muito mais informações do que você pode processar. Existe inclusive algo que se chama "psicose informática", em que o indivíduo acessa uma quantidade tão grande de informação que o seu cérebro, por assim dizer, laceia, e perde o interesse de saber o que é a verdade e de discernir aquilo.

É claro que eu sou muito grato aos computadores. Se eles não existissem, eu jamais teria publicado um livro. Virei escritor graças aos computadores. Eu possuía tantas notas, tantos rabiscos, tantos rascunhos: eram pilhas e pilhas que eu jamais conseguiria botar em ordem fisicamente. Então um dia pequei tudo aquilo e contratamos uma moça para digitar tudo e passar para o computador. Aí foi fácil juntar os vários pedaços. Graças a isso é que consegui virar escritor. Eu sabia que tinha livros inteiros compostos com pedaços de aulas: disse algo aqui e três meses depois, em outra aula, continuei aquilo. Mas no meio da papelada como eu iria achar isto? Nunca. Nos computadores tornou-se enormemente fácil. Portanto eu sei que isto é útil e, para fazer pesquisas, por exemplo, hoje eu consigo em três ou quatro horas reunir dados que antes eu levava três ou quatro meses.

Porém, eu aprendi toda esta técnica de pesquisa antes de existir os computadores. Portanto eu sei moderar o uso do instrumento para que eu não perca o controle do que estou fazendo. Mesmo assim, às vezes, a coisa é difícil. Por exemplo, para preparar o Trueoutspeak. Para cada programa eu leio no mínimo cem notícias, e, quando vou fazer o programa estou consciente delas. Estou consciente de que não poderei comentar todas, mas, às vezes, o significado de uma que estou comentando depende de outra que não comentei. Isto quer dizer que, semanalmente, tudo aquilo que eu disse no programa depende de um contexto que eu não cheguei a verbalizar, e que apenas eu sei, os ouvintes não sabem. É claro que isto é um problema, mas eu tento manter isso sobre controle.

Mas como será isso para um sujeito que desde criancinha já teve todo este universo de informação à disposição dele? O meu irmão, que foi um dos pioneiros da informática no Brasil, e que começou a estudar isso no tempo em que um bit era do tamanho de uma caixa de sapato e que os computadores eram do tamanho de um prédio, quando vieram os microcomputadores ele ficou revoltado. Levou muitos anos até que ele comprasse o primeiro microcomputador. Ele era um gênio da computação, um grande analista de sistemas, mas não tinha microcomputador; é um paradoxo. Quando precisava fazer alguma coisa tinha de ir à Lan house. Daí eu perguntei: "por que você odeia os microcomputadores?". Ele respondeu-me: "o microcomputador é a origem da pseudociência.".

Qualquer pessoa, em uma breve consulta a Wikipédia, consegue, em cinco minutos, simular uma erudição monstruosa. E como você destrinchará aquilo para saber que a coisa é falsa? Você terá de testar o indivíduo para ver se ele realmente sabe o que está dizendo. Isto leva tempo e é bastante complicado. Agora, se eu que estou olhando a coisa de fora, tenho dificuldade para fazer isso, quanta dificuldade o próprio indivíduo não terá para perceber que está enganando a si mesmo?

Por exemplo, eu raramente encontro em debates na internet alguém com a consciência do seguinte ponto: ter uma multidão de dados que confirmem o que você quer dizer, não prova que o que você quer dizer é verdade. O elemento de prova só começa quando existe a contra prova, ou seja, quando as hipóteses que impugnam a sua hipótese foram derrubadas. A necessidade da contra prova é a base do método científico. Está lá no livro do Claude Bernard, Introdução a Medicina Experimental, que eu li há mais de quarenta anos, no tempo em que fazia revista médica. O que ele escreveu é definitivo: a contra prova é muito mais importante do que a prova. Aliás, ela é a única prova que existe, o resto é apenas elemento de persuasão. Você acumula um fato, dois fatos, três fatos, quarenta fatos que parecem confirmar aquilo, é um forte elemento de persuasão. Mas você ainda está dentro do campo da retórica. Só pode se falar de prova quando se passa para o campo dialético, que é a confrontação. Se não há pelo menos duas hipóteses que se contradizem não há dialética nenhuma. Dificilmente encontramos alguém que tenha (saber, muitos sabem) uma clara consciência disso e que saiba usar no dia a dia.

O que acontece? Acontece o seguinte: a pessoa tem certas crenças de base, crenças que ela mesma não consegue articular direto, e tem em cima uma falsa linguagem formal com a qual camufla aquilo com a aparência de algo respeitável. Quando você confronta essas pessoas com a situação real de discurso, elas ficam furiosas e pensam que você quer desmoralizá-las, humilhá-las.

Por exemplo, nestas discussões com o Júlio Lemos, ele fala da superioridade das ciências duras, da lógica matemática etc. Que sentido faz isso na boca de um sujeito que nunca praticou nenhuma dessas ciências? Júlio Lemos tem um treinamento em direito e algum conhecimento em filologia clássica, o que eu não nego. No entanto, mostrem-me um trabalho do Júlio Lemos em lógica matemática, em Física. Não há nada. É um amador falando de uma coisa que ele acha superior, mas que são outros que praticam e não ele. Em seguida entra o Adriano Correia falando da superioridade da filologia clássica, que ele também não pratica.

O meu filho Pedro estudou Jiu-Jitsu anos a fio. Foi vice-campeão brasileiro com cinco anos de idade. Continuou e virou uma espécie de máquina mortífera. Mas ele me diz: "pai, este negócio de jiu-jitsu só serve para você brigar com um, se vier dois você está ferrado!" Assim, ele tenta complementar aquilo com outras coisas. Ele diz isso. Eu posso dizê-lo? Eu não sei, não pratiquei nada disto. Eu posso dizer "ele disse tal coisa", mas não posso assumir isso e sair arrotando este conhecimento, seria absolutamente falso. No entanto os dois fazem isso e não percebem que o conteúdo do que estão dizendo é contraditado pela situação do discurso.

Algumas pessoas dizem que é paralaxe cognitiva. Eu digo "não". Paralaxe cognitiva só existe quando o indivíduo concebe uma teoria. Existe paralaxe cognitiva em Kant, em Rene Descartes. Se você é um gênio da filosofia, construiu uma teoria inteira, e pode confrontar esta teoria com a situação do discurso e ver se ela se contradiz, aí temos paralaxe cognitiva. Mas este fenômeno não é paralaxe cognitiva, é simplesmente a incapacidade de articular experiência e discurso, uma coisa muito mais básica e grosseira. Chamar de paralaxe cognitiva? Pensa que ele é quem? Você pensa que ele é Immanuel Kant? Hegel?

Quando as pessoas usam este termo paralaxe cognitiva estão incorrendo no mesmo erro, ou seja, não têm o senso da diferença de proporção entre um fenômeno e outro. Você encontra paralaxe cognitiva em Descartes, mas não neste tipo de inabilidade de articular uma coisa com outra, isto não tem. Ao chamar isto de paralaxe cognitiva você o está enobrecendo, porque você mesmo não está muito consciente da situação do discurso. Você está apenas diante de um artigo do Adriano Correia e acha que está diante da Crítica da Razão Pura. Você toma uma mera semelhança como sendo uma identidade, portanto toma uma figura de linguagem como se fosse um conceito. Tudo isto deve ser meticulosamente corrigido.

São muito poucas as pessoas que sabem escrever nesta geração, inclusive entre meus melhores alunos. Isto deve ser corrigido antes que vocês tenham uma atuação pública mais forte, do contrário você pode virar um exemplo daquilo mesmo que está combatendo.

[INTERVALO]

Temos aqui várias perguntas.

Aluno: Que orientações o senhor poderia dar para pais de primeira viagem referente à educação do filho para que ele não seja contaminado pela mentalidade imbecil coletiva? O Homeschooling integral no Brasil não é permitido, então ele necessariamente estará submetido, na melhor das hipóteses parcialmente, a todo pensamento socioconstrutivista. Como garantir que nossos filhos, mesmo tendo nascido e criados aqui, não sejam como os outros brasileiros?

Olavo: Bom, eu não tenho fórmula para isso, mas algumas recomendações que tiro da prática são muito importantes. A primeira coisa é o seguinte: é importante que você como pai represente para a criança a autoridade principal. Ou seja, que ela respeite você muito acima do que respeitará os professores ou os grupos de pressão no colégio, que também representam um tipo de uma autoridade. Sobretudo na adolescência, a geração, o grupo, tem uma autoridade tremenda (ver artigo "O Imbecil Juvenil"). Nos EUA existem milhares de livros sobre isso: a pressão dos pares (peer presure) e como isto tem autoridade sobre as crianças, e como defender-se disso. Você pode procurar, em livros publicados nos EUA existe muita coisa; no Brasil não há nada, nada, nada.

Para que você se afirme perante seus filhos como autoridade é preciso que você o seja realmente, e isto é algo que vem do coração humano, você precisa identificar-se muito profundamente com o papel de pai. Eu fui pai oito vezes, criei várias crianças, cometi muitos erros no começo depois fui aprendendo aos poucos. Hoje eu entendo a coisa maravilhosa que é você ser pai, é a maior honra que um ser humano pode ter. Isto é a primeira coisa que você tem de entender, e sentir-se feliz neste papel.

O pai é eminentemente o protetor das crianças, isso é a primeira coisa. Você está ali para proteger e ajudar os seus filhos; você não está lá para dirigi-los, isto é muito importante. É impossível você dirigir uma criança. O que você pode fazer é agir exatamente da maneira que você quer que eles ajam. É simples, mas simples não quer dizer fácil. Por exemplo: nunca, nunca, dê uma bronca nos seus filhos apenas porque você está nervoso, só porque eles te irritaram, nunca faça isso. Dê uma bronca apenas quando eles agirem de uma maneia objetivamente errada, isto é, fizeram algo que, se você fizesse no lugar deles você desejaria ser corrigido. Você não pode usar as crianças como depósito das suas emoções ruins, jamais faça isso. Controle-se, se for preciso tome um banho frio, mas não levante a voz com eles a não ser que tenham feito algo de muito errado.

Segundo: interfira muito pouco e mantenha certa distância. Esta história de pai amigo é conversa mole para boi dormir. O pai não está aí para ficar brincando com crianças, se fazer de palhaço, ficar falando como criancinha. O pai é uma posição solene e respeitável, que deve dar à criança a segurança. Eu notava, por exemplo, que alguns de meus filhos, quando eram pequenos, frequentemente pediam minha autorização para fazer as coisas mais óbvias: "pai, posso ir ao banheiro?", "claro que pode"; "posso fazer tal coisa?", "claro que pode"; "posso vestir tal roupa em vez da outra?", "claro que pode". Por que eles fazem isto? Eles sabem que eu vou deixar, sabem que é algo óbvio. Mas, fazer aquilo com a autorização do pai dava uma importância maior para a situação, valorizava-a. Eles queriam receber uma ordem.

Aos poucos fui percebendo que, esta história de que criança é naturalmente rebelde, é a coisa mais falsa do mundo; a criança é naturalmente obediente, ela procura a autoridade, porque a autoridade a valoriza, dá uma dimensão maior que ela precisa para aprender o sentido do que está fazendo. Na medida em que você faz isso, você torna-se o centro de referência, e não importa o que os outros disserem, eles acreditarão em você. Esta é a primeira coisa: ganhar credibilidade perante seus filhos. Eles precisam sentir que você os ama, e ama muito. Então não regateie carinho, elogios etc. Pegue sempre no colo, faça um ato de carinho, mas não se meta nas brincadeiras deles, marque distância: eu sou adulto, sou o pai, sou chefe desse negócio.

Não dê explicações para seus filhos e não discuta com eles. Quando der uma ordem e eles perguntarem "por quê?" você diz "porque eu mandei". É preciso acostumar-se a isso. E eles entenderão que você é autoridade e que tem o poder que é correspondente a sua missão de protetor.

Para você meter isto na cabeça tem de pensar o seguinte: se entrar um ladrão aqui, alguém quiser agredir meus filhos, eu vou correr o risco de vida primeiro? Se você responder não, então você não terá autoridade alguma. Eu morreria por estas crianças aqui? Morreria e mataria por estas crianças? Então você terá autoridade. Na medida em que você tem isto, elas vão lhe procurar, precisarão da sua orientação e lhe seguirão.

Eu tenho muita felicidade com meus filhos, nunca tive nenhuma discussão, nunca me disseram um não. Mas, eu tomei como norma o seguinte: não dou mais de uma ordem por mês, não interfiro na vidinha deles, deixo-os fazerem o que quiserem. Só quando é algo de segurança, algo de moral (está lá um estrangulando o outro), aí eu não deixo, evidentemente. Uma vez o menor chegou chorando (nós morávamos em um prédio em São Paulo), eu perguntei "o que foi?", ele disse "os meninos não me deixaram em entrar no clube", eu falei "que clube?", disse ele "o clube dos meninos do prédio". "Por que não deixaram você entrar?", "porque eu não passei no teste", "que teste?". O teste era subir no último andar do prédio e andar pela murada. Evidentemente eu fui lá e cacei o alvará do clube. Neste caso não há discussão porque é uma situação de risco. Mas, em coisas como "o que a criança deve comer? o que deve vestir?", quanto menos você puder interferir, melhor.

Aprenda a ser um verdadeiro pai. Um pai não se mete em picuinhas, as coisinhas do interesse dele, deixe-o fazer do jeito que quiser. Na medida em que você conquista esta posição, você pode passar algum ensinamento para eles em tempo relativamente breve. Por quê? Porque o que você fala terá muita importância.

Toda esta coisa do aprendizado silábico terá de ser dado em casa se não for dado na escola. O socioconstrutivismo não atingiu todos. Deve ter gente que me ouve aqui que não passou por isto. Se passou, se seu filho está sendo objeto disto, arrume um professor particular se você não puder fazer isso. O homeschooling é uma vocação. Eu não tenho a menor vocação para isto, não tenho vocação para ser professor de crianças de jeito nenhum. Para ser professor de jovens e adultos, sim, este é o meu negócio. Ficar ensinando criança escrever não é minha praia. Arrume um professor particular que os ensine. Não precisa ser todo dia, que vá lá uma vez por semana. Arrume isto para eles e diga: "é muito importante que vocês aprendam isto". Ás vezes eles ficarão sobrecarregados porque terão de ir à escola e mais o professor particular, mas você explica para eles.

Quando o Pedro e a Leilah eram pequenos perguntaram "pai porque temos de ir à escola?", eu disse "só tem um motivo para vocês irem para escola: se não forem, eles me prendem. Em reconhecimento a tudo que fiz por vocês, por favor, vão para a escola e aguentem isto, que eu ficarei muito grato". Nunca mais reclamaram. "E se tirarmos nota baixa?", "não tem a menor importância". Eu não vou exigir um bom desempenho numa atividade que não faz sentido e que é prejudicial. Se for o último da classe, tudo bem. Não sei se resolvi alguma coisa, mas foi o que eu podia falar no momento.

Aluno: comecei a assistir o curso de filosofia no último sábado, mas confesso que me senti meio perdido. Sou estudante de direito na Universidade Católica de Petrópolis e passei a sentir necessidade de aprender mais sobre outros campos do saber, por isso acredito que a filosofia me dará a capacidade e a liberdade de aprender. Comecei a perceber certas armadilhas no Direito que servem as ideologias, que o direito pode ser manipulado para legitimar todo tipo de ato espúrio e não quero ser manipulado, formatado. Como exemplo, cito o aborto de anencéfalos recentemente julgado pelo STF. O argumento basicamente resumia-se a dizer que para o direito a personalidade se inicia com o nascimento com vida, logo o feto não é pessoas humana e, portanto, pode ser morto. Houve um ministro que chegou a dizer que se a vida extrauterina é inviável não havia porque manter em gestação já que o nascituro iria morrer de qualquer forma. Ora, os ministros não levaram em conta que a personalidade jurídica é apenas uma ficção para efeitos patrimoniais que não correspondem à realidade da vida, pois o feto é pessoa (...)

Olavo: Muitas destas decisões são tomadas com base em certos preceitos que resultam de uma discussão enormemente complicada, que, às vezes, prolongou-se ao longo de séculos, e que eles passam adiante como se fosse algo auto-evidente ou um consenso universal. Conhecer as histórias das discussões a respeito é absolutamente fundamental. Caso contrário, ou você vai aceitar os princípios implícitos nos quais a excelência está julgando o negócio, ou então revoltar-se-á e não saberá o que fazer. Estes erros, quando se impõem a nós com alguma autoridade, de certo modo nos beneficiam porque nos obrigam a conhecer o que está por trás e a estudar todas as bases daquilo e ficar sabendo mais do que estas pessoas. E quando você sabe mais não hesite em desmoralizá-los em público, mesmo que seja um ministro, presidente da república, um cardeal, ou o papa.

Quando você tem o conhecimento efetivo, está dominando o negócio, e vê o sujeito falar besteira, não fique inibido, nunca. Só existem duas autoridades: a primeira é Deus (e a autoridade derivada diretamente dele) e a segunda é a autoridade do auto-evidente. Com que autoridade você diz que 2 + 2 = 4? Eu digo com autoridade divina, afinal de contas quem determinou isto foi o próprio Deus. O que quer que você diga com plena evidência, você diz com plena autoridade, e não há porque aceitar uma autoridade acima disto. Não é questão de ser rebelde, esbravejar. Simplesmente colocar as coisas no plano certo e nunca respeitar quem não merece respeito, isto é fundamental, é o que dizia Nietsche "quem não sabe desprezar, não sabe respeitar". Se você começa a vender barato seu respeito só porque o sujeito está em um cargo tal, você já se aviltou completamente, você nunca pode fazer isto. Se numa escola com dois mil alunos há um aluno que aja assim, ele começa a consertar a hierarquia imediatamente.

Aluno: (...) contudo, estudei minha vida toda em escola pública, meu conhecimento de filosofia é muito próxima do zero. Gostaria de saber então por onde começar.

Olavo: Em primeiro lugar você já começou. Eu sugiro que você faça o meu curso em dois andares: vai acompanhando as aulas atuais, mas ao mesmo tempo vai fazendo as aulas todas desde o início e fazendo todas as práticas que eu ali recomendei. Porque eu dei uma série de exercícios. O Mário Chainho e a Juliana fizeram um resumo de todas as práticas e exercícios. Não deixe de fazê-los, porque lhe darão uma clareza e uma segurança.

Acompanhar as aulas atuais não é suficiente de maneira alguma, você vai acompanhar sem ligar muito para elas, mais tarde você voltará a elas já com o conhecimento das anteriores. É muito importante você seguir pela ordem. Quanto a livros: é menos importante você ler livros de filosofia do que fazer estas práticas. Ler livros de filosofia é adquirir cultura filosófica, mas o aprendizado para o exercício da filosofia é outra coisa, e isto só se aprende no confronto direto, como está havendo entre nós.

Outra coisa, ele diz aqui na pergunta que a bibliografia teria de ser em português porque não domina outros idiomas. É fundamental que você aprenda outros idiomas, não há escapatória. Os que querem aprender um idioma estrangeiro procurem um método chamado Pimsleur. O sujeito ensina os idiomas estrangeiros como se ensina a um analfabeto. No começo não é escrita é só pelo ouvido, a coisa é de uma eficácia brutal. Este é o maior gênio do aprendizado de idiomas que eu já vi. Você pode comprar pela internet. Para quem é um falante do português existe curso de inglês, francês, italiano, alemão, não falta nada. Se sua língua natal fosse malaio talvez fosse um pouco mais difícil, mas para o falante de português ou espanhol não.

Aluno: Terminei uma pequena obra que resultou das discussões feitas durante o seminário de filosofia aplicado à medicina, com as ferramentas que pude adquirir no curso on-line, sei que o senhor já diz que o tempo é curto e que agora não ha como avaliar o trabalho, mas mesmo que não pudesse avaliar o escrito, gostaria que sugerisse, se não for inconveniente, alguns colegas para revisarem e criticarem o texto.

Olavo: Eu farei isso, eu posso colocar o texto no próprio fórum, para que outros tenham acesso e façam as correções devidas, mas agora eu volto a pedir pelo amor de Deus: não me enviem trabalhos agora.

Eu já estou velho e decrépito e, segundo o Adriano Correia, sou uma velha gagá. Ele tem toda a razão. Então eu tenho de medir o uso das minhas parcas energias. Os trabalhos são só para quando eu não der mais aulas expositivas, quando as aulas forem dadas só na base da analise dos trabalhos que me forem enviados, ai sim, mas agora não. Eu farei isso, então quem puder examinar o trabalho do aluno e sugerir alguma coisa, eu agradeço desde já.

Aluno: Estou na aula sete, o curso é ótimo, é como se cada aula fosse um choque de conhecimento, mas minha dúvida é tendo em vista que vou concluir o curso em torno de quatro anos, vou ter meu trabalho de conclusão de curso analisado pelo senhor?

Olavo: Certamente, porque quando começarem a enviar os trabalhos, vai levar muito tempo, só poderei avaliar um trabalho por semana são quatro por mês, quarenta e oito por ano, até terminar tudo vai um bocado de tempo.

Então não se preocupe, isso vai acontecer. Eu não vou largar vocês no meio do caminho. Não sou como o Gurdjieff que de repente diz "olha agora eu vou falecer e deixo vocês em maus lençóis". Eu não pretendo falecer e nem ficar totalmente decrépito antes de levar esse curso até o seu ultimo resultado que será a apreciação e analise do ultimo trabalho enviado.

Aluno: Considerando a evolução dos estudos sobre o pensamento de Sócrates, Platão ao longo do século passado, qual o valor da obra de Émile Boutroux: Socrate, fondateur de La science morale.

Olavo: Tudo que *Émile *Boutroux escreveu é valido, veja tem alguns trabalhos de erudição que às vezes são ultrapassados por outros no que diz respeito a detalhes, mas no conjunto você veja que um trabalho de erudição, de filologia, de exposição da filosofia de clássico, é uma obra filosófica também e ela tem um valor intrínseco. Mesmo quando cientificamente alguns de seus detalhes sejam ultrapassados.

Então não despreze, por exemplo, quando você vê as obras de filosofia, a história de filosofia grega do Zeller, por exemplo, alguns dizem "ah já esta superado, já descobriram muitas coisas que Zeller não sabia" eu digo "sim, mas primeiro, sem a ajuda do Zeller você nunca chegaria a isto, e segundo você ter descoberto uma coisa a mais ou uma coisa a menos, não quer dizer que você foi um leitor tão bom quanto Eduard Zeller foi, ou Ueberweg".

Esses grandes clássicos, assim como os grandes clássicos da filosofia, são sempre úteis, veja em filosofia, em todas essas áreas de humanas, a história de uma disciplina está muito ligada à própria disciplina, não são coisas totalmente independentes, e essas obras sempre têm valor.

Aluno: Assisti ao vídeo: simbolismo e cultura moderna. Gostaria de pedir que desse mais alguns exemplos de simbolismo natural.

Olavo: Eu me lembro de ter dado ali o simbolismo do sol, mas outro simbolismo que é obviamente natural é o próprio simbolismo da lua, porque a lua é um negocio que para os seres humanos não aparece como uma figura estável, ela aparece com diferentes figuras, não da para você saber qual é a forma da lua, se você não a observa durante varias ciclos inteiros, e não retraça a história, então isso quer dizer que a associação que foi feita da lua com a passagem do tempo, e com a memória, tem um fundamento natural obvio, e assim por diante.

Nos grandes dicionários de símbolos como o de Chevalier e Gheerbrant, que ainda é bastante usado, não é muito difícil, você separar daqueles símbolos que ele dá, quais daqueles que se impõem naturalmente e quais aqueles que são tão ambíguos, que somente uma projeção humana ou uma criação cultural pode lhes dar um sentido.

Também não deixe de ler os escritos de René Guénon sobre simbolismo, no livro: Symboles de la Science Sacrée, Símbolos da Ciência Sagrada, são clássicos, independentemente do que quer que pensemos a respeito do Guénon em outros aspectos. Também o livro do Titus Burkhart sobre alquimia, é uma perfeição sobre este aspecto, e eu também tenho um curso sobre a linguagem alquímica, eu não sei se isso está no site ou não, eu acho que não esta ainda, sobre como ler os textos alquímicos, eu dou ali algumas dicas, eu vou colocar isso online. Agüenta mais um pouco que eu colocarei à disposição.

Aluno: Gostaria de saber quais os métodos de estudo para entrar em determinadas áreas do conhecimento como a fenomenologia, semiótica, etnografia, grand theory. É claro que eu estou criando meu status questiones dentro da área de comportamento do consumidor para meu mestrado em administração e essas são as principais correntes teóricas da área. Devo ler os textos nos originais, esgotar um tema, e só depois partir para outro? Ler comentadores de Heidegger antes de entrar nos originais? (...)

Olavo: Isso ai é um abacaxi, para cada caso diferente tem uma resposta diferente, para a fenomenologia eu acho muito interessante se você conseguir acompanhar a obra de Husserl tal como ela foi se desenvolvendo no tempo, porque Husserl documentou muito bem tudo que ele examinou, tudo o que ele pensou, e nenhum expositor de Husserl poderia jamais ser tão completo ou meticuloso quanto ele foi.

Edmund Husserl sabia taquigrafia e ele escrevia na velocidade em que pensava, é claro que a obra é imensa, é uma coisa que não acaba mais, e se você não domina alemão isso não é um grande problema, porque existem excelentes traduções, trata-se de um dos autores que mais teve felicidade em suas traduções, são as traduções francesas da editora PUF, ou as traduções espanholas da Aliança Editorial, meu conhecimento de alemão é precário, eu não conseguiria ler Husserl de cabo a rabo no alemão, posso de vez em quando pegar uma frase ou outra para conferir, mas se eu for um livro de Husserl em alemão eu levaria quinze anos.

Eu sugiro que você comesse pelas investigações lógicas, que é um livro que ele escreveu antes de ter concebido o método fenomenológico, mas os fundamentos estão todos lá, quando ele estava em busca de um negocio que ele chamava: "a lógica pura" que depois iria se tornar a fenomenologia.

Você pode ler isso ao mesmo que lê um livro introdutório. O filosofo francês Jean-François Lyotard escreveu uma introdução muito boa a fenomenologia, o que quer que agente pense sobre o Lyotard, sobre outros aspectos, ele como explicador de Husserl foi simplesmente magistral, e depois você tem que ir pegando os textos mais ou menos pela ordem cronológica, que isso com relação à fenomenologia vai dar certo. Existem outras obras sobre a história do movimento fenomenológico em geral, dai a coisa complica porque é um campo enorme.

Quanto à semiótica, agente sabe que é um ramo onde vale tudo, tudo quando é tipo de besteira se falou ali, mas se você se ativer aos primeiros fundamentos da coisa, teoria dos sinais e essa coisa toda, você vai se dar bem. Um autor que não vai lhe enganar é o Gottlob Frege, esse era seriíssimo e não há nenhuma dificuldade de ler os textos do Frege, mas quando você chega no Charles Sanders Pierce isso já gera problemas, não leia o Pierce antes de ler o artigo que eu escrevi a respeito. Fiquei lendo Charles Pierce um tempo, depois falei "isso aqui a gente resolve em três paginas" fiz uma aposta com um leitor de Pierce, e acho que resolvi o problema ali em três paginas.

Agora quando você diz ler os textos no original, não precisa ler os comentadores de Heidegger no original, pode ler o próprio Heidegger em traduções, mas o próprio Heidegger é extremamente escorregadio ele usa processos literários altamente evanescentes, você não sabe exatamente o que ele esta querendo dizer, quanto mais tempo puder gastar com o próprio Edmund Husserl antes de chegar a Heidegger melhor para você.

Aluno: (...) também como devemos organizar os estudos devemos ler os grandes gênios da literatura ou devemos retornar aos livros de português da quinta série?

Olavo: Não, não, não. O que eu sugeri hoje é apenas, aquele aprendizado muito elementar fonético silábico só isso, você não vai precisar estudar tudo de novo, se quiser estudar tudo de novo, você pega o curso de português do Napoleão Mendes de Almeida e faça todo do começo até o fim, não vai te fazer mal nenhum.

Quanto à ler os grandes gênios da literatura, só leia os grandes gênios da literatura, não leia livros de segunda ordem, livro de segunda ordem é para você ler daqui a trinta anos, o contrario: "ah vamos ler umas coisas mais água com açúcar no começo e depois vamos ler Shakespeare, Camões" é exatamente o contrario.

Leia os clássicos porque eles têm um poder formativo, pegue o livro do padre Sertillanges. Aquele livro para mim foi à inspiração que fez nascer este curso e os antepassados desse curso como Introdução a Vida Intelectual, quando ele fala dos quatro tipos de leitura, que é a leitura que ele chama de formativa, a leitura informativa, a leitura inspiracional, e a leitura de diversão de entretenimento. É claro que a atitude com que você entra nessas quatro leituras é completamente diferente. Os livros que são de mera informação, por exemplo - o livro que eu estou lendo para fazer uma pesquisa - as vezes eu leio o livro num dia, sem a menor dificuldade, leio e anoto, já sei o que eu quero lá e de certo modo já domino o assunto. Quando a leitura é formativa - como Edmund Husserl - quanto tempo da sua vida dedicar as investigações lógicas, um ano que seja, você não vai perder nada, porque isso vai criar estruturas dentro de você, para saber como se examina uma questão em filosofia. Leia as investigações lógicas aquilo é um primor, realmente de investigação filosófica.

Aluno: Gostaria de saber se há possibilidade de se bons estudos sobre a história dos hebreus no Brasil (...)

Olavo: possibilidade há, e a bibliografia existente já no Brasil não é pequena, mas eu acho que ainda falta muita coisa, por exemplo, uma vez eu mesmo estava procurando a história dos primeiros imigrantes judeus em São Paulo. Eu lembro que aquela região da rua vinte e cinco de março, tinha sido uma região judaica, antes de virar o bairro dos árabes, eu queria saber como é que uma coisa virou outra. Eu procurei, virei, mexi, não consegui descobrir, descobri apenas a parte árabe, então tem muita coisa faltando. E se você quer estudar isso, você faz muito bem porque é uma área onde tem imensas lacunas ainda, você não vai estar num deserto, à comunidade judaica é sempre preocupada com a sua história, preocupada com documentação, você sempre vai encontrar alguma coisa, certamente.

Aluno: (...) O que o senhor acha sobre a tese de Flávio Josefo de uma historiografia judaica superior a historiografia grega.

Olavo: Olha não sei o que pensar, mas eu sei que os judeus já tinham uma experiência enorme nesse negócio de registro historiográfico antes que os gregos entrassem na jogada. Você tem toda a Bíblia com toda a história do povo judeu documentada às vezes com uma minúcia muito grande, muito antes que aparecessem bons historiadores greco-latinos.

Aluno: (...) Como faço para aprender o português da forma certa.

Olavo: Muito bem, eu não sei qual é sua língua originaria, pode ser polonês, alemão ou russo, não sei. Busque o Pimsleur. Se é polonês: português para poloneses. Se é o russo: português para russos. Procure na pagina Pimsleur.com, tem todas as soluções cruzadas, todas as línguas para os falantes de todas as outras línguas. Não tem outro.

Aluno: Gostaria de saber como podemos diagnosticar nossa deficiência na aquisição material da linguagem, e o que poderemos fazer para corrigi-la.

Olavo: Mas é muito simples, estou dizendo, voltar ao aprendizado dos fonemas. Você pega uma gramática elementar, a do próprio Napoleão Mendes de Almeida e lê ali a parte sobre a divisão silábica, e faça os exercícios daquela parte, não há mais nada o que fazer, é só isso. Quanto a perceber as deficiências, você só vai perceber depois que você fizer isto.

Aluno: Como articular esse processo de reeducação com o exercício de imitação dos clássicos? (...)

Olavo: É mais ou menos a mesma coisa. Por exemplo, quando eu recomendei logo no começo você decorar poemas e você aprender a declamá-los. Em voz alta. Eu acho que é esse um exercício absolutamente fundamental, inclusive do ponto de vista desse aprendizado dos fonemas, a correta pronuncia de todos os fonemas.

Aluno: (...) Em relação ao que foi explicado qual o papel da gramática latina?

Olavo: Bom, o primeiro papel da gramática latina é, sobretudo, como um organizador de cérebro, se você pudesse aprender a gramática árabe seria muito bom, porque é mais organizada ainda do que a latina. O Napoleão Mendes de Almeida insiste nisso, o meu professor de latim insistia nisso. Você aprender o latim é como você aprender um sistema de arquivos, você tem todos os modos de classificar tudo que vier a aprender depois em matéria de língua. Eu inclusive fui estudar a gramática portuguesa tardiamente, acho que só quando eu tinha trinta anos. E antes disso no que eu me baseava? No que tinha aprendido na gramática latina do Napoleão Mendes de Almeida.

Aluno: O estudo de latim em Napoleão Mendes de Almeida pode nos ajudar a superar as dificuldades de expressão, comunicação e linguagem?

Olavo: Certamente pode e poucas coisas podem te ajudar tanto quanto isso.

Acho que já fomos bem tarde, então até a semana que vem muito obrigado a todos.

Transcrição: Ian Garcez, Evandro Santos de Albuquerque e Paulo Ricardo Costa Pinto.

Revisão: Fernando José da Silva.